A experiência da estudante Joice Andressa Fritz Drefs, durante os Estágios Curriculares e práticas pedagógicas do curso de Pedagogia da Unijuí, motivou a realização do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) “Violências corporais e sexuais contra crianças: o que pode a educação escolar fazer?”. A estudante relata que teve contato com muitas crianças, de várias faixas etárias e com diferentes condições socioeconômicas e culturais, raças/etnias e religiões, e que, em uma destas experiências, conheceu uma criança que apresentava um comportamento não esperado para a idade. Havia sinais de medo de que alguém tocasse no seu corpo.
“Eu pensava: seria essa criança vítima de algum tipo de violência corporal e sexual? Ela demonstrava sinais de sofrimento com seu corpo. Como eu poderia ajudá-la? Como conversar com ela sobre esse assunto? Como conversar com meus pares profissionais sobre esta possível situação de violência que ocorria? Compreendi a necessidade que havia em pesquisar e aprender mais sobre esse assunto e, por isso, senti-me movida e sinto-me ‘mordida’ por esse tema”, explicou.
Após a realização de pesquisa bibliográfica e revisão de literatura no Banco de Teses e Dissertações, Joice constatou que o assunto ainda é escasso nas discussões investigativas do contexto escolar brasileiro, uma vez que há poucos estudos acerca da temática. Também é apresentado como procedimento de pesquisa o estudo de caso de uma estudante, Maria, gaúcha que sofreu violência corporal e sexual de um vizinho por anos, mas que, a partir de uma palestra na instituição escolar onde estudava, compreendeu como essa situação estava errada e ainda aprendeu meios de realizar denúncias anônimas.
“Identifiquei que no contexto contemporâneo, há altos índices relacionados à violência corporal e sexual contra crianças brasileiras, sendo um crime que atinge, em sua maioria, meninas, evidenciando a desigualdade de gênero em nossa sociedade. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em 2021, em 2020 foram registrados 60.926 casos de estupro no Brasil e, destes, 44.879 eram estupros de vulneráveis, sendo que em mais de 60% dos casos as vítimas tinham até 13 anos. Deste total, 75% das vítimas eram do sexo feminino e ainda 85,2% dos casos tinham como principais perpetuadores a família, amigos e conhecidos, evidenciando a violência intrafamiliar”, ressaltou.
A educação, como aponta Joice, possui um papel fundamental no combate às violências, já que pode contribuir para que as crianças as reconheçam e saiam do anonimato ou nunca cheguem a mantê-las no escuro, sobretudo, as violências que ocorrem no espaço intrafamiliar.
A partir do seu TCC e da inserção como aluna convidada no Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências para a realização de uma disciplina, além dos projetos que participou em 2021, Joice tem a certeza que quer continuar na vida acadêmica.
“Com este desejo e incentivo dos meus professores de seguir na academia, sigo estudando, agora como aluna de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da Unijuí, vinculada à Linha 3 - Educação Popular em Movimentos e Organizações Sociais, onde conquistei aprovação na primeira colocação. Também passei no extravestibular em outra instituição para cursar licenciatura em filosofia, opção que ainda estou analisando. Esta decisão de continuar na vida acadêmica foi difícil de ser tomada, visto as incertezas que cercam esta etapa. Porém, tive muito suporte, sobretudo da minha orientadora de TCC e de Iniciação Científica, a professora Maria Simone Vione Schwengber, a qual foi uma grande inspiração para mim, sempre me motivando, e que ainda me convidou para participar de dois projetos”, disse.