Mais de 11 mil animais de estimação e silvestres foram afetados pelas enchentes registradas no Rio Grande do Sul. Segundo dados da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura, foram resgatados, principalmente, cães e gatos, mas também aves, guaxinins, e cavalos, a exemplo do Caramelo, que estava em cima do telhado de uma casa ilhada, em Canoas.
Mas como proceder em situações de caos, como essa que está ocorrendo no Estado, e salvar o máximo de vidas possíveis? Segundo a diretora clínica do Hospital Veterinário da Unijuí, professora doutora Gabriele Callegaro Serafini, durante o resgate o comportamento instintivo do gato, normalmente, é fugir e se esconder, e do cão, é latir, uivar, pedir ajuda. Independente da espécie, ambos sentem medo e estão em situação de vulnerabilidade dependendo dos humanos para sobreviver.
“O voluntário deve chegar com calma e ganhar confiança do animal para conseguir pegá-lo. Em algumas situações mais pontuais é necessária a sedação do animal para garantir a segurança da equipe, quando o mesmo está muito bravo. Neste sentido é importante manipular os animais com cuidado, porque eles podem estar feridos e com dor”, destacou.
Cuidados após o resgate
A professora aponta quais os principais cuidados com os animais resgatados. “Muitos chegam molhados, com frio, hipotérmicos, com medo, feridos e até com pneumonia. Eles devem ser secos com toalhas (quando possível, com secadores de cabelo, por exemplo) e permanecer aquecidos até que a temperatura normalize. Quando tiver auxílio de um veterinário, o mesmo pode fazer exame físico em busca de lesões e doenças e tratá-las dando mais importância ao que for urgência. As feridas devem ser higienizadas, tratadas com produtos tópicos e enfaixadas; nas fraturas, podem ser feitas imobilizações externas e, quando possível, encaminhar para cirurgia, além do uso de medicamentos para dor”.
Também há casos em que os animais chegam com pulgas, carrapatos e endoparasitas (vermes). Como todos ficarão abrigados no mesmo ambiente, correndo risco de infestação, a aplicação de antiparasitários acaba sendo muito importante, bem como as vacinas. Outro cuidado é separar os cães dos gatos e, entre os cães, separar os filhotes, pois necessitam de cuidados mais específicos, além de separar as fêmeas que estão no cio.
Doenças em decorrência das enchentes
A principal doença que os animais podem ter por conta das enchentes é a leptospirose, doença infecciosa causada pela bactéria leptospira. “O contágio da doença se dá, principalmente, pelo contato com a urina de ratos infectados, podendo causar a doença em humanos e animais. Os cães infectados com leptospirose podem transmitir a doença aos humanos através de suas secreções. Como em um primeiro momento não se tem como saber se esses cães estão infectados ou não, é importante manipulá-los com luvas por precaução”, orientou a diretora clínica do HV.
Além disso, é preciso estar atento, pois além das doenças em decorrência da exposição às enchentes, existem animais que estão debilitados por conta de maus tratos. “Conforme relatos de colegas que estão na linha de frente, muitos animais chegam com diversas enfermidades que, visivelmente, não são consequências da enchente e sim, da falta de cuidados por parte de tutores, como, tumores mamários enormes, fraturas antigas, piometra e desnutrição. Assim, ressaltamos a importância da adoção responsável, pois quando alguém se dispõe a adotar um animal, deve ter consciência que o bem-estar do mesmo é responsabilidade do tutor”, pontuou Gabriele.