Graduado recentemente no curso de Arquitetura e Urbanismo da Unijuí, Gabriel da S. Wildner já sabia, muito antes de chegar à reta final da graduação, qual tema desenvolveria em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Ele recorda que a ideia surgiu em maio de 2018, quando foi iniciada uma paralisação nacional pelos caminhoneiros, que levantava pautas como o valor do diesel, valor mínimo para transporte de mercadorias e redução de taxas de pedágios. Em meio a este movimento, surgia o pedido de intervenção militar no Brasil.
“Deflagrado no dia 31 de março de 1964, o golpe cívico-militar perdurou até o ano de 1985 no País. Encerrado há 38 anos, foi impactante ouvir e ver parte da população pedindo o retorno de um regime ditatorial, levando em consideração que são acontecimentos recentes. Essa situação me mostrou, na época, a curta memória da sociedade em relação à sua própria história e me fez refletir acerca de ferramentas da arquitetura, do urbanismo e do paisagismo que poderiam ser utilizadas para contribuir com o fortalecimento da memória da comunidade”, disse.
Conforme explica o agora arquiteto e urbanista, por mais que a região Noroeste do Rio Grande do Sul tenha uma expressiva participação no processo de resistência e, consequentemente, de redemocratização do País, poucos espaços evocam a memória e a história da luta pela liberdade. “E é visto que a concepção de espaços que sirvam como locais de memória pode contribuir ativamente para a preservação da história da comunidade, servindo de alicerce para a construção do futuro político do País”, disse.
Foi a partir de todo esse contexto que Gabriel produziu seu TCC intitulado “CURA: Centro de Cultura, Memória e Resistência à Ditadura no Interior do Estado do Rio Grande do Sul”. Para sua construção, foram realizadas pesquisas bibliográficas, principalmente nos relatórios da Comissão Nacional da Verdade (CNV) do ano de 2014, que trouxeram à tona muitos dados e histórias que foram silenciados ao longo dos anos sobre a ditadura no Brasil, além do livro “Baioneta Calada”, de Luciana Bertoldo, que conta a história de seu pai, Genir José Bertoldo, que foi perseguido pela ditadura no município de Ijuí.
“Outro recurso que contribuiu muito para a construção do meu trabalho foi a participação no Grupo de Pesquisa de Ensino e Metodologias em Geografia e Ciências Sociais (EMGEOCS), orientado pela professora Helena Copetti Callai. A participação ao longo dos anos em um grupo interdisciplinar me elucidou muito sobre conceitos e temáticas relacionados ao patrimônio arquitetônico, à memória e à conservação, além de me colocar em contato com pessoas incríveis que fizeram grande diferença na minha trajetória acadêmica”, comentou.
Para Gabriel, o resultado mais impactante da sua pesquisa foi saber que o Rio Grande do Sul detém o maior número de locais onde ocorreram violações dos direitos humanos do Brasil, durante a ditadura, e que grande parte dessas ocorrências aconteceram na região Noroeste do Estado. “Diante disso, a concepção do projeto CURA, um Centro de Cultura, Memória e Resistência, ocorreu na forma de uma intervenção arquitetônica em um prédio histórico da cidade de Ijuí, a antiga Intendência Municipal. O projeto tentou abordar todos os aspectos históricos da região acerca do tema, através de uma perspectiva poética e sensível, respeitando o invólucro histórico da edificação preexistente, trazendo materiais contemporâneos e incitando reflexões acerca da temporalidade, da repressão, da resistência, das memórias e da construção de futuros”, reforçou.
Graduado no mês de março, Gabriel agora almeja ingressar em um curso de mestrado para dar sequência à pesquisa que teve início em seu TCC.