Desde a terça-feira, 23 de junho, autoridades sanitárias da Argentina emitiram alertas ao Brasil, em especial aqui no Rio Grande do Sul, para uma nuvem enorme de gafanhotos que se desloca próxima da região de Uruguaiana, oriunda do Paraguai. Ela pode chegar ao Estado, ou passar direto ao Uruguai. Este acontecimento gerou muita curiosidade, comentários na internet e na imprensa em geral.
Segundo a professora Vidica Bianchi, mestre em Educação e doutora em Ecologia, do Departamento de Ciências da Vida da Unijuí (DCVida), com atuação nos mestrados de Educação nas Ciências e Sistema Ambientais e Sustentabilidade da Unijuí, esse é um fenômeno que pode acontecer e já existem registros de outras ocorrências, inclusive no Museu Antropológico Diretor Pestana (MADP), décadas atrás. Em diversas partes do mundo o mesmo fenômeno também já foi registrado, segundo esta reportagem do G1.
De acordo com a especialista, trata-se da espécie conhecida popularmente como gafanhoto migratório sul-americano (Schistocerca cancellata), que tem como característica o comportamento coletivo, se deslocando em massa na fase adulta em busca de alimento e abrigo. Cada fêmea pode colocar de 50 a 120 ovos, com um período de 30 dias de incubação, sendo que jovens e adultos vivem em conjunto, se alimentando dos mesmos recursos, com um ciclo de vida total de cerca de 100 dias. “A dinâmica populacional depende de alguns fatores: temperatura e umidade (abióticos), caracterizados pela crise climática, como o calor no inverno, por exemplo, e ausência de predadores (bióticos), esses dois fatores combinados podem ter favorecido a população extraordinária desta nuvem de gafanhotos”, relata.
O que impressiona, além da quantidade gigantesca de insetos que se deslocam na nuvem, viajando de 100 a 150 km em um dia - estima-se 40 milhões de animais em um quilômetro quadrado de área - é o estrago que podem fazer em plantações. “Podem consumir pastagens que 2 mil vacas ou uma população de 350 mil pessoas comeriam em um dia, segundo biólogos que estão observando o fenômeno na Argentina”, observa. Porém, a professora salienta que o grupo de insetos não apresenta perigos diretamente aos seres humanos. “Como se alimentam da vegetação, podem causar grandes prejuízos econômicos, até porque podem se alimentar de um número variado de espécies de plantas. Para evitar fenômenos como estes é preciso um alerta com os cuidados ambientais. A conservação da biodiversidade é essencial, precisamos equilíbrio entre as espécies”, afirma a professora.
Monitoramento
Segundo notícia publicada no site da Gaúcha ZH, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou que a nuvem de gafanhoto que ameaça chegar ao Rio Grande do Sul deve seguir em direção ao Uruguai. Conforme a pasta, a informação foi repassada pelo Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa).
Na história
O Museu Antropológico Diretor Pestana (MADP) possui registros históricos preservados em seu arquivo, em fotografia e também em notícias do jornal Correio Serrano, que mostram que um fenômeno semelhante já aconteceu em Ijuí. Conforme o Relatório da Intendência Municipal, no verão de 1917, nuvens de gafanhotos atacaram as colônias, propriedades agrícolas do município de Ijuí e todos se empenharam no combate à praga, inclusive a prefeitura contratou trabalhadores assalariados para atuar no combate. Em setembro de 1933 uma nuvem de gafanhotos atingiu, inclusive, o espaço urbano. O Relatório do Posto Agropecuário de 1946 se refere a gafanhotos que atingiram as plantações de trigo plantados na tarde, mas que foram atingidas outras espécies de plantas.
Resumo
Espécie: popularmente como gafanhoto migratório sul-americano (Schistocerca cancellata)
Quantidade: estimativa de 40 milhões de animais em um quilômetro quadrado de área
Deslocamento: 100 a 150 km em um dia
Alimentação: podem consumir pastagens que 2 mil vacas ou uma população de 350 mil pessoas comeriam em um dia
De onde surgiu? Relata-se que esta nuvem específica seja oriunda bioma do chaco, no Paraguai, região com condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da espécie e vem se deslocando por províncias do nordeste da Argentina, em direção ao sul.