O artigo produzido por professores dos Programas de Pós-Graduação em Atenção Integral à Saúde e Modelagem Matemática da Unijuí, em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), foi publicado em uma prestigiada revista científica, a The Public Library of Science ONE (PLOS ONE), e enviado pelo próprio veículo de comunicação à Organização Mundial da Saúde (OMS).
O artigo leva o título de “Insufficient social distancing may contribute to COVID-19 outbreak: the case of Ijuí city in Brazil”, ou Distanciamento social insuficiente pode contribuir para o surto de Covid-19: o caso da cidade de Ijuí no Brasil, em tradução livre.
A publicação apresenta um conjunto de análises dos resultados de diferentes indicadores de distanciamento social em Ijuí. Neste estudo, estão incluídos os resultados da primeira metade da pesquisa Epicovid19-RS, realizada em Ijuí entre abril e junho de 2020. No período, 2.222 pessoas foram testadas quanto à presença de anticorpos contra o novo coronavírus e também responderam a um questionário sobre a adesão ao distanciamento social, rotinas preventivas diárias, características sociodemográficas e presença de comorbidades. Em paralelo, o estudo mostrou o nível de distanciamento social registrado pelos sinais de celulares da comunidade, e o número de casos de Covid-19 no município, de acordo com os casos oficiais da doença, disponibilizados pela prefeitura municipal de Ijuí. Além disso, o artigo mostra os efeitos esperados em diferentes níveis de adesão ao distanciamento social, de acordo com modelos matemáticos.
O estudo demonstra que, antes da pandemia, a parcela da população que ficava sempre em casa era de aproximadamente 30%, segundo registro do deslocamento de celulares no mês de fevereiro e primeira quinzena de março. Na segunda quinzena de março, o isolamento social atingiu 70% no final de semana e 54% em dias úteis. No entanto, o estudo mostra que em junho os níveis voltaram ao patamar pré-pandemia (31%).
O estudo demonstra, ainda, a diminuição de 11% da parcela da população que relatou que permanecia o tempo todo em casa ou saía apenas para atividades essenciais entre início de abril e final de maio. Os dados indicam que 64% da população se considerava aderindo ao distanciamento social no início da pandemia, diminuído para 53% em maio. Embora com valores diferentes, a mesma diminuição, em média, pode ser vista no distanciamento social pelo registro do deslocamento dos telefones celulares (de 44% para 34%). A diferença entre o registrado pelos celulares e o relatado pelas entrevistas é explicado pela própria diferença de compreensão da população sobre estar ou não aderindo às medidas. No mesmo período, Ijuí passou de 25 casos na última semana de maio para 245 casos ao final de junho.
O estudo mostrou que o não cumprimento do distanciamento social recomendado poderia estar associado ao aumento no número de casos da Covid-19 na cidade, de modo a sobrecarregar o sistema de saúde. Segundo as predições matemáticas, com uma adesão apenas parcial da população às medidas de proteção e diminuição insuficiente da taxa de transmissão registrada em maio e junho, Ijuí poderia chegar a 511 mortes no final do ano. Ainda, com adesão suficiente, porém tardia (30 dias após o 100° caso), Ijuí registraria 62 mortes em outubro. No entanto, com uma adesão adequada rapidamente (em até 15 dias após o 100° caso), as predições estimavam 27 mortes em outubro, quando Ijuí registrava oficialmente 25 mortes por Covid-19. Estes dados sugerem que o distanciamento social praticado inicialmente tenha evitado um grande número de mortes.
Por outro lado, a diminuição gradativa dos níveis de distanciamento gerado por uma “fadiga de quarentena” contribuiu para não conter a pandemia na cidade. O atual cenário, que conta com mais de 4 mil casos e mais de 70 óbitos pela doença é, portanto, simultaneamente resultado da proteção inicial gerada pela boa adesão ao distanciamento social da população e resultado da fadiga deste sistema de contenção de pandemia, aponta o coordenador do estudo, professor doutor Thiago Gomes Heck – também coordenador do Programa de Pós-Graduação em Atenção Integral à Saúde e professor do Programa de Pós-Graduação em Modelagem Matemática e Computacional.
O artigo dos autores Thiago G. Heck, Rafael Z. Frantz, Matias N. Frizzo, Carlos Henrique R. François, Mirna S. Ludwig, Marilia A. Mesenburg, Giovano P. Buratti, Lígia B. B. Franz e Evelise M. Berlezi está disponível neste link.