Projeto de Pesquisa da Unijuí analisa violação dos Direitos Humanos nas redes sociais de brasileiros
A cena é aterrorizante: em uma cela do Presídio em Manaus corpos esquartejados e carbonizados empilhados em meio a pernas, braços e cabeças decepadas. Mais adiante homens empunhando facas e facões declaram guerra a integrantes de facções inimigas que, do lado de fora, viram 56 presos serem assassinados. Tudo filmado e compartilhado nas redes sociais.
O massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, na capital do Amazonas, aconteceu no início do ano e as cenas foram compartilhadas por milhares de perfis na internet.
Cerca de 49,3% da população brasileira possui conta na rede social mais acessada no Brasil, o Facebook, que conta com 99 milhões de usuários ativos só no Brasil, compartilhando gostos, preferências e opiniões. Os dados foram apresentados por Ime Archibong, diretor de parcerias estratégicas da rede social, durante o Campus Party 2016, em São Paulo.
A internet passa a ser reflexo das atividades sociais das pessoas. Assim como na vida real, na internet as pessoas também cometem crimes. A violação dos Direitos Humanos é uma das práticas mais frequentes por meio de comentários, posts ofensivos e até discussões sobre temas relacionados.
Portanto, analisar essas práticas é um dos objetivos do projeto de pesquisa, coordenado pela professora doutora Vera Raddatz, no Mestrado em Direitos Humanos da Unijuí. O projeto analisa os conteúdos que circulam na internet em relação aos direitos humanos.
Como método, a pesquisa destacou algumas palavras-chave para serem estudadas, quais sejam: direitos humanos, censura, liberdade de expressão e informação. Segundo Vera, a pesquisa acontece nas redes sociais mais acessadas: Facebook, Twitter e no site de pesquisa Google sem limite de espaço territorial.
A pesquisa acontece por meio das hashtags. Na busca por direitos humanos, por exemplo, ficaria assim: #direitoshumanos. Desta forma, o projeto encontra apenas assuntos relacionados ao tema. São posts e comentários que o projeto procura. Em muitos dos casos os comentários são em perfis de veículos de comunicação. As pesquisas não são filtradas por cidade, região ou estado.
Do ponto de vista do Direitos Humanos, Vera alerta: “ (as redes sociais) acabam sendo uma plataforma violenta e agressiva, porque ali o cidadão, de modo geral, consegue fazer uma apologia ao ódio, consegue xingar, consegue dizer coisas que pessoalmente talvez não dissesse”, avalia.
A professora define as redes sociais como um espaço de todos. “É um espaço público potencialmente democrático. Nunca houve tanta liberdade de expressão, nunca houve tanta possibilidade do cidadão se posicionar e dizer as suas opiniões e pontos de vista, porém é um espaço de muita fragilidade também”, alerta.
Mídia e Direitos Humanos
Antes da pesquisa nas redes sociais, o projeto, há quatro anos, pesquisa a narrativa jornalística sobre questões relacionadas aos direitos humanos. Já analisou jornais de Ijuí, do Estado e também do país, como por exemplo, Jornal da Manhã, Zero Hora e Folha de São Paulo. Um de cada espaço territorial.
Conforme os resultados da pesquisa, a pesquisadora já observou que as notícias relacionando os direitos humanos limitavam-se apenas a fazer cobertura de eventos, ou a situações específicas, como uma violação de direitos em relação à criança, à mulher, em função da questão de gênero.
“Não são pautas que nascem da atitude ou do desejo de uma redação de um jornal ou de uma rádio, por exemplo, pesquisar e fomentar essa questão. Os direitos humanos não são uma pauta que a mídia busca por si mesma”, critica.
A partir disso, ocorreu o desejo de observar o comportamento da mídia, em relação aos direitos humanos, nas redes sociais mais acessadas. Ou seja, as notícias postadas nos perfis oficiais de veículos de comunicação e os comentários gerados no post. No segundo semestre de 2016 foi elaborado um quadro com as notícias mais comentadas, relacionando o assunto.
Dos resultados obtidos nas pesquisas a professora sustenta: “o direito à informação está sendo extrapolado por uma perspectiva negativa. Então, todas essas questões nos preocupam”.
O projeto espera, ao divulgar esses resultados, fomentar pesquisas e produções acadêmicas sobre o assunto. Além disso, o projeto pretende gerar uma reflexão na comunidade sobre o teor dos conteúdos publicados na internet e também sobre o papel que os comunicadores representam na construção de um jornalismo mais abrangente e crítico.