Ontem, 19 de abril, foi celebrado o Dia dos Povos Indígenas, ou ainda povos originários, aqueles que já estavam aqui quando da chegada dos europeus. Mas seria o dia 19 um dia de celebração ou de reflexão. Essa foi a temática debatida no Rizoma desta quinta-feira, na Rádio Unijuí FM.
Maria Inês de Freitas, que é indigena Kaingang, natural e residente na Terra Indigena Guarita, município de Tenente Portela-RS, coordenadora regional em Passo Fundo da Fundação Nacional dos Povos Indígenas - Funai, sócia fundadora da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul, Pedagoga formada pela Unijuí, mestre em educação pela UFRGS e estudante de direito na UFSM, militante do movimento indigena da região Sul-ATL e da Marcha das Mulheres Indígenas, destaca que um dado a ser comemorado é uma maior conscientização, a partir deste ano, sobre a necessidade de ter à frente dos assuntos dos povos indígenas, pessoas qualificadas que são, de fato, indígenas. “Uma outra coisa que acho importante destacarmos é que apesar de um momento de reflexão, também é um momento de comemoração sim, pois temos muitos motivos para comemorarmos por sermos indígenas e por termos muitas perspectivas positivas a partir de um contexto de entendimento, a partir de políticas públicas governamentais que entendem que também dentro deste povo há pessoas qualificadas para falar por essa parcela da população”, comenta.
Já para a licenciada em História pela Unisinos e especialista em mulher Kaingang (com ênfase em estudos e pesquisa acerca da Tenda da Lua), e também descendente patrilinear Kaingang, Jaqueline Maria dos Santos, ver que cada vez mais os indígenas estão ocupando espaços importantes na sociedade é motivo de orgulho. “Ver tantos indígenas nas universidades para que elas virem ‘pluversidades’ é incrível. Eu descobri, por exemplo, que sou filha de Kaingang e não sabia. De 500 anos para cá ou tu tem o pé na aldeia ou tu tem o pé na África, não tem como negar isso. E negar os povos indígenas é negar tua própria natureza. E quando debatemos tanto a questão do índio quando a da inserção da mulher indígena, caímos na questão histórica. Entender a história é muito importante, pois se tu sabe quem tu é, tu sabe para onde tu vai”, destaca.
O professor doutor Doglas Cesar Lucas Possui, é professor dos cursos de Graduação, Mestrado e Doutorado em Direito na Unijui e editor-chefe da Revista Direitos Humanos e Democracia, coordenador da Coleção Direitos Humanos e Democracia, trouxe para o debate a questão do reconhecimento do indígena e suas crenças como um ser, de fato, humano. “Isso porque as discussões lá no século 16, depois da ocupação da América, no âmbito da antropologia, da Filosofia e do Direito, sobre o conceito perpassavam pela ideia do ser humano como uma ideia de branquitude e de civilização europeia. Então quando colonizamos, fizemos isso construindo um processo de poder, um processo de ser e um processo de saber, ou seja, tudo que não era europeu não tinha lugar. E isso, sem querer ou querendo, ainda é replicado até hoje e é por isso que, apesar de os modelos pedagógicos e de discussão terem sido refinados, ainda reproduzem um eco de um mesmo processo, apenas com novos tons, de uma dinâmica colonial. O que evidencia a necessidade de reconhecer e respeitar os sujeitos que constituem a nossa sociedade brasileira, em suas diferentes culturas, religiosidades e experiências. E isso não é um favor, isso é um direito previsto, inclusive, nas cartas internacionais de direito”, comenta.
O debate que seguiu ainda trouxe assuntos relevantes como os desafios para os próximos anos em nosso país, a aproximação entre os povos indígenas e a compreensão dos diferentes tipos de culturas destes povos. Para acompanhar toda a discussão, você pode acessar o Rizoma Temático na íntegra nas plataformas streaming, no canal do Youtube da Rádio Unijuí FM ou clicando no link abaixo: