Entenda como a nota de R$ 200 pode impactar a vida da população brasileira - Unijuí

COMUNICA

PORTAL DE NOTÍCIAS DA UNIJUÍ

            

Foto: Agência Brasil

Ela já tem cor (cinza) e animal para caracterizá-la (lobo-guará), devendo entrar em circulação ainda no mês de agosto deste ano. Sim, teremos uma nova nota, no valor de R$ 200. Uma “novidade” como esta na economia tem consequências reais e bem palpáveis aos cidadãos. Desta forma, consultamos o professor Dr. do Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional, o economista Argemiro Luís Brum, que esclareceu diversos pontos desta medida econômica do Governo Federal. Confira:

- Qual o motivo da criação desta nota?

Normalmente, quando um país cria uma moeda de maior valor do que o circulante normal, é um sinal de inflação no país. Ora, apesar de a inflação real brasileira ser maior, em geral, do que o índice oficial (IPCA) anunciado mensalmente pelo governo, a mesma continua bastante baixa e, portanto, não justifica a criação de uma nova moeda. Diante disso, o que o Banco Central alega e é verdadeiro nesta história:

1) com a pandemia houve um aumento na demanda por dinheiro vivo porque, além de o governo ter que liberar mais recursos públicos, a população, em boa parte, continua com os efeitos psicológicos do passado quando, em época de crise, o dinheiro sumia e/ou o governo confiscava (a era Collor quem viveu não esquece). Assim, a população, diante da pandemia, passou a entesourar o dinheiro vivo, isto é, guardar em casa de medo de perdê-lo, não pela inflação, pois ninguém guarda em casa algo que perde valor, mas sim de medo do governo. Com isso, há menor quantidade de dinheiro circulando no mercado.

2) este segundo ponto me parece mais convincente: o Banco Central calculou que o custo de fabricar mais notas de R$ 100,00 obviamente acaba sendo o dobro em relação a uma nota de R$ 200,00 (ao invés de duas notas, fabricar-se-á uma nota). Soma-se a isso, o fato de o Brasil ser um país socialmente muito pobre (ainda), onde 40% da população não possui conta bancária. Segundo pesquisa feita em 2018, ainda 60% dos entrevistados disseram que usam o dinheiro vivo como forma de pagamento mais utilizada. Ou seja, ainda são muito poucos os que usam os meios eletrônicos para pagamento e compra de bens. Isso é uma consequência da grande desigualdade existente no país e que pouco se faz para modificá-la. 

- O que se espera criando ela?

O governo espera que isso facilite a vida das pessoas, pois a pandemia está obrigando a irrigar mais o mercado com dinheiro vivo. Mas há grandes dúvidas e problemas nisso:

1) a população, maioria pobre, já encontra dificuldade em trocar uma nota de R$ 100,00, pois compra bens de baixo valor. Agora, com uma nota de R$ 200,00 esta realidade vai piorar, já que será preciso ainda mais oferta de dinheiro miúdo. E já encontramos escassez, no mercado de moedas, incluindo a de um real, assim como de notas de R$ 5,00 e R$ 10,00 seguidamente. Isso poderá ficar ainda pior;

2) muitos especialistas acreditam que o crime organizado terá a vida facilitada, pois, em princípio, manipulará o mesmo valor com menos volume de papel moeda (neste sentido, a lavagem de dinheiro seria favorecida);

3) se a questão é municiar a economia em função da demanda excepcional promovida pela pandemia, não faz nenhum sentido criar nova moeda por isso, pois logo adiante espera-se que a pandemia desapareça ou diminua substancialmente (assim que vier uma vacina eficiente).

              

- Como pode afetar a economia e o dia a dia das pessoas?

Se o governo, que pensa emitir 450 milhões de unidades da nova cédula (o que equivale a colocar no mercado 90 bilhões de reais), continuar a emitir a mesma quantidade de notas de R$ 100,00, além de não ocorrer a economia direta esperada na fabricação (ao contrário, os custos irão aumentar), haverá pressão inflacionária direta pela maior liquidez de dinheiro em um momento de recessão econômica. Será um desastre! Mas, por enquanto e sabiamente, o Banco Central anuncia que não irá fazer isso. Assim, a medida não terá impacto na base monetária do país, ou seja, não será um "dinheiro a mais" que irá circular e sim, cada nota de 200 reais substituirá duas notas de 100 reais (mas isso poderá complicar bastante na hora de se fazer troco para os 200 reais, como alertei acima). Neste segundo caminho, o efeito então será somente direto no dia a dia das pessoas, que terão de se habituar a gerenciar o consumo de 200 reais em uma nota apenas. Para quem não tem cultura financeira, como a maioria dos brasileiros, isso poderá ser um problema prático bem substancial. Dito isso, há muitas dúvidas de como isso afetará a população na prática.  

- O que mais é importante entendermos?

É ainda importante salientar que, em fazendo isso, o Brasil está indo na direção contrária do mundo, pois a grande maioria dos países, incluindo emergentes e subdesenvolvidos, estão eliminando as notas de grande valor e direcionando sua população para pagamentos via meios eletrônicos (incluindo o cartão de crédito). Isso reflete o atraso que temos nesta área, reflexo da baixa cultura e formação de boa parte da população nacional, que não aprendeu a lidar com estes meios eletrônicos. Além disso, muitos se endividam sobremaneira com o uso destes meios, justamente porque não possuem conhecimento financeiro para administrar este uso. Assim, escaldados, voltam a usar o dinheiro vivo como caminho. E o governo, ao invés de criar mecanismos de formação da população neste sentido, como a grande maioria dos países vem fazendo, ignora o processo, preferindo alimentar o mercado de dinheiro vivo. No médio prazo, se cristaliza mais um retrocesso de política pública em relação ao mundo globalizado em que vivemos.

 


Compartilhe!

Utilizamos cookies para garantir que será proporcionada a melhor experiência ao usuário enquanto visita o nosso site. Ao navegar pelo site, você autoriza a coleta destes dados e utilizá-los conforme descritos em nossa Política de Privacidade.