Quantas mulheres em cargos de chefia você conhece?
Em 2018 o IBGE divulgou os resultados da pesquisa Estatística de Gênero, que revelam que as mulheres ocupam 37,8% do topo da hierarquia do setor público e privado. No entanto, as mulheres são maioria entre os trabalhadores brasileiros, representam cerca de 51%.
As razões por diferenças tão significativas entre homens e mulheres podem ter várias explicações, a maioria são explicações culturais. A maneira como a sociedade impôs o papel da mulher, lá nos primeiros anos da vida em sociedade, se reflete até hoje.
Gradativamente, mulheres conquistaram muitos direitos a partir de sacrifícios, dores e lutas. Tudo isso para que outras mulheres pudessem ter o direito de poder simplesmente concordar ou não com essa luta. E essa luta precisa ser diária, constante.
Na FIDENE, Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Noroeste do Estado, mulheres coordenam e chefiam as quatro mantidas da Fundação: Unijuí, Rádio Unijuí FM, EFA e Museu Antropológico Diretor Pestana.
Cátia Maria Nehring, professora Presidente da FIDENE e Reitora da Unijuí, acredita que apesar das conquistas significativas, nós (sociedade) temos muito a avançar efetivamente em termos de igualdade, respeito e liberdade. “Ainda há muitas lutas a serem travadas e muitos ‘dias das mulheres’ a serem colocados em pauta, como um dia de reflexão, de discussão, de busca pelo respeito, pela igualdade, pela colaboração entre os diferentes”.
A professora comenta, ainda, que as lutas por igualdade, respeito e liberdade precisam ser também de negros, pobres, homossexuais. Minorias que em muitas situações são maiorias.
Também na reitoria da Universidade, a professora Cristina Eliza Pozzobon ocupa o cargo de Vice-Reitoria de Graduação. Esse caminho já foi percorrido por Eronita Barcelos, primeira presidente da FIDENE e primeira reitora da Unijuí nas gestões de 1999-2001 e de 2002-2004. “É preciso novas atitudes e posicionamento para demonstrar os efeitos positivos daquelas conquistas. Em síntese: novas lutas”, alerta Eronita.
No mercado de trabalho há outros desafios para as mulheres. De acordo com a mesma pesquisa, apresentada em 2018, uma mulher recebia 76,5% do rendimento dos homens em 2016, apesar de terem, em média, melhor formação: 16,9% delas têm ensino superior completo, frente a 13,5% dos homens.
Para que mudanças possam ser feitas nas relações trabalhistas, a representação política precisa ser efetiva. Entretanto, apenas 15% das vagas da Câmara dos Deputados foram preenchidas por mulheres na última eleição, em outubro de 2018. Houve um aumento em relação à última gestão que possuía 10%, mas longe de uma equidade se levarmos em consideração que mulheres representam cerca de 51% da população total.
Para Cláudia Cristina Bohrer, Diretora da Unijuí FM, as mudanças também precisam ser cotidianas. “A sociedade como um todo tem papel fundamental na igualdade de salários e de carga horária de trabalho, bem como na divisão da responsabilidade nas tarefas da casa e criação dos filhos”, comenta. Por falar em tarefas domésticas e filhos, esses são alguns dos motivos que fazem com que mulheres optem por jornadas de trabalho flexíveis e deixem de ingressar em algum curso de qualificação profissional, por exemplo.
Enquanto a representação política não é efetiva com relação à equidade de gênero, outras frentes se levantam. Grupos feministas ganham cada vez mais notoriedade. E a sociedade reage, seja para criticar, seja para apoiar.
Falar sobre mulheres e suas lutas é falar sobre pessoas. Maria do Carmo Pilissão, Diretora da EFA – Centro de Educação Básica Francisco de Assis – acredita que a sociedade precisa, constantemente, falar, discutir e refletir. “Como educadora acredito que tudo o que se relaciona à cidadania, diversidade e direitos humanos precisa estar colocado nas práticas pedagógicas”, salienta.
O caminho para uma sociedade equiparada é longo e a construção é agora. “Só teremos resultados por meio de debates na área econômica, social e cultural, e por meio da participação nas decisões que influenciam a cidadania, de maneira humanitária”, comenta a Diretora do Museu Antropológico Diretor Pestana, Stela Zambiazi.
Então, vamos falar sobre mulheres, sobre seus projetos e, mais importante, vamos ouvi-las. Confira, na íntegra, a entrevista com cinco mulheres que fizeram e fazem parte do desenvolvimento regional por meio da educação: Cátia Maria Nehring, presidente da FIDENE e reitora da Unijuí; Cristina Eliza Pozzobon, Vice-Reitora de Graduação; Eronita Barcelos, primeira Presidente da FIDENE e primeira reitora da Unijuí; Cláudia Cristina Bohrer, Diretora da Unijuí FM; Maria do Carmo Pelissão, Diretora da EFA; e Stela Zambiazi, Diretora do Museu Antropológico Diretor Pestana.
Cátia Maria Nehring, Presidente da FIDENE e Reitora da Unijuí
Entendo que tivemos muitos avanços desde que a data do dia internacional da mulher foi instituída a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York, no qual cerca de 130 operárias morreram carbonizas. A partir deste fato, muito triste, se marca uma trajetória das lutas feministas ao longo do século 20.
Conseguimos muitos avanços, tivemos o direito de votar, de frequentarmos uma escola, de termos uma profissão, de decidirmos ou não por casarmos, ou termos ou não filhos. Termos "controle" sobre nosso corpo e decidirmos nossas profissões, sem dependermos de um homem de nossas famílias.
Mas ainda, apesar dessas conquistas significativas, temos muito a avançar efetivamente em termos de igualdade, respeito e liberdade, não se resumindo somente às mulheres, mas também aos negros, aos pobres, aos homossexuais, às minorias que em muitas situações são maiorias.
Ainda há muitas lutas a serem travadas e muitos dias das mulheres a serem colocados em pauta, como um dia de reflexão, de discussão, de busca pelo respeito, pela igualdade, pela colaboração entre os diferentes. Não é um dia de darmos rosas, mas de nos colocarmos no enfrentamento de questões muitas vezes veladas.
Que este dia não seja entendido como um dia de comemorar, mas que ele seja de fato um dia utilizado para refletirmos, debatermos, conversamos sobre a necessidade do respeito, da solidariedade, da ética entre todos nós humanos. Que possamos entender que a diferença é constitutiva do ser humano. Somos diferentes como condição de sermos humanos e não somos a centralidade do planeta. O respeito e a necessidade de equidade social deveriam ser pontos inegociáveis.
Cristina Eliza Pozzobon, Vice-Reitora de Graduação da Unijuí
O Dia Internacional da Mulher deve ser lembrado pela luta que continua, pela garantia das condições humanas de igualdade e liberdade. Nesse sentido, é necessário reconhecer que houve bastante avanço em todos os campos, contudo ainda há bastante a ser feito, tanto na esfera social quanto profissional, para que mulheres e homens tenham as mesmas condições de trabalho, remuneração e reconhecimento.
Desejo que a data nos faça refletir sobre a condição de sermos todos humanos, independente de gênero e de opções.
Eronita Barcelos, primeira Presidente da Fidene e Primeira Reitora da Unijuí
Temos avançado muito, sem dúvidas, mas ainda há que fazer esses avanços serem reconhecidos não só como conquistas femininas, mas como uma nova compreensão da ética humana. Entendo que em se tratando de ética não é possível aceitar que gênero seja indicador de inferioridade dos seres humanos.
O grande avanço, na minha visão, é o acesso à educação que humaniza, alarga horizontes, liberta e oportuniza autoria e protagonismo nas diversas esferas sociais. Portanto, todas as demais conquistas que vêm se construindo como novas possibilidades de presença da mulher no contexto social.
No entanto, é importante destacar que conquistas desorganizam o "status quo" e então há um conjunto de ações reativas. Novamente é preciso novas atitudes e posicionamento para demonstrar os efeitos positivos daquelas conquistas. Em síntese: novas lutas.
Claúdia Cristina Bohrer, Diretora da Unijuí FM
As conquistas são muitas, apesar de ainda serem insuficientes. Creio que o fato de as mulheres hoje poderem estar onde quiserem, no que diz respeito a trabalho, por exemplo, é o reflexo de que sempre tiveram condições de fazer qualquer coisa, porém não tinham a oportunidade para tal.
O resultado é hoje se ter mulheres a frente de cargos elevados, em qualquer profissão, a frente de empreendimentos de sucesso, do desenvolvimento de comunidades, de pesquisas de ponta, etc. O acesso à educação é o que alavancou isso tudo, oportunizando à mulher a independência financeira.
A universidade tem papel importante neste contexto, para além da formação profissional, mas também como espaço de diálogo e troca de experiências. É preciso cada vez mais diálogo para que a informação sobre o real conceito de feminismo chegue às pessoas para assim reduzir os tabus e até mudar o senso comum sobre o assunto.
É um trabalho de formiguinha em que cada sujeito deve fazer a sua parte no seu local para que a médio e longo prazos tenhamos novos avanços. A sociedade como um todo tem papel fundamental na igualdade de salários e de carga horária de trabalho, bem como na divisão da responsabilidade nas tarefas da casa e criação dos filhos.
Que falemos e nos preocupemos com essa temática não só no dia 8 de março. Que, individualmente, possamos agir com coerência buscando um mundo mais livre, mais justo, mais humano.
Maria do Carmo Pelissão, Diretora da EFA
É evidente que a luta das mulheres pelo fim da discriminação e pela igualdade de gênero vem transformando a realidade em muitos países e também no Brasil, conquistando assim novos direitos, equivalência de gênero, políticas públicas que contribuíram grandemente para a redução da discriminação e das desigualdades de gênero. Neste contexto de lutas destaco o crescimento da escolarização das mulheres em todos os níveis de ensino como um fator primordial para os avanços e conquistas nas lutas desbravadas pelas mulheres em todos estes anos.
A sociedade como um todo precisa constantemente debater, refletir e buscar caminhos para que a igualdade de gênero seja uma realidade. Como educadora acredito que tudo o que se relaciona à cidadania, diversidade e direitos humanos precisa estar colocado nas práticas pedagógicas. É necessário debate e diálogo para termos ações propositivas nas escolas desenvolvendo ações voltadas à humanização, respeito, solidariedade e empatia que contribuirá para que a igualdade de gênero se torne uma constante realidade.
O dia Internacional da Mulher deve ser comemorado com a certeza de grandes conquistas, mas não deixemos de estar atentas no intuito de germinar ações que garantam o respeito, a integridade e igualdade da mulher, na busca constante de uma sociedade mais justa e fraterna.
Stela Zambiazi, diretora do Museu Antropológico Diretor Pestana
As mulheres tiveram muitas conquistas até hoje alcançadas com passos lentos, que são resultados da mobilização e do engajamento nos diversos movimentos que se formaram ao longo dos tempos. As últimas décadas foram marcadas por profundas transformações que impactaram positivamente na vida das mulheres.
Apesar dessas conquistas, a mulher está muito longe de atingir sua autonomia. A luta pelos seus direitos é permanente. É uma longa caminhada que só terá resultados por meio de debates na área econômica, social e cultural, e por meio da participação nas decisões que influenciam a cidadania, de maneira humanitária.
Precisamos de políticas públicas relacionadas com todas as esferas da sociedade, destinadas à apoiar a promoção da igualdade entre homens e mulheres, que devem ter os mesmos direitos e obrigações, as mesmas oportunidades e a mesma qualidade de vida.
Não podemos desistir de nossos sonhos e de nossos ideais. Temos que lutar pelos nossos direitos e por um país mais justo e fraterno, onde todos somos irmãos independentemente de cor, raça ou gênero. Com pequenas mudanças vamos conquistando nossos espaços.
Merecemos respeito, reconhecimento e admiração todos os dias, pois somos guerreiras, buscamos nossos espaços, corremos atrás, temos objetivos, enfrentamos dificuldades, mas não desistimos, mesmo quando parece que estamos carregando o mundo nas costas. Parabéns a todas as MULHERES!
Mulheres admiráveis
Conheça algumas mulheres admiradas por nossas entrevistadas.
Cátia Maria Nehring – “Tenho várias mulheres que admiro por diferentes razões. Mulheres que fizeram parte de minha constituição de mulher, mãe, profissional. Início por duas pessoas mais próximas. A minha vó paterna, Vó Olguinha, pela sua alegria de vida.
Por nos ensinar que a alegria estava em pequenas coisas, que a música e a dança deveriam se fazer presentes sempre, apesar da dureza da vida. A minha mãe, que nos mostrou o valor do trabalho, do respeito com o outro e da solidariedade como condição necessária de convívio entre as pessoas.
Profissionalmente destacaria a prof. Dra. Esther Grossi, como educadora matemática, pesquisadora, política, escritora, coloridade (sim Esther é reconhecida pelos seus cabelos coloridos e por sempre estar de salto alto), por me possibilitar conhecer teoricamente a didática francesa (principalmente a teoria dos campos conceituais) e o grande diferencial que um professor pode fazer na vida de uma pessoa, se permitir a ela aprender”.
Stela Zambiazi – “Zilda Arns Neumann foi uma mulher guerreira, de força e coragem. Reconhecida como uma das maiores humanitárias do Brasil, foi sanitarista, missionária brasileira e uma pediatra importante para a redução da mortalidade infantil no país. Foi a fundadora da Pastoral da Criança, programa de ação social que se expandiu por diversos países”.
Cláudia Cristina Boehrer - "Admiro Malala Yousfzaa, paquistanesa, hoje com 21 anos, que desde os 15 anos luta pela defesa dos direitos das mulheres e acesso à educação. Sua trajetória pública começou quando foi baleada na cabeça por talibãs, ao sair da escola, quando tinha 15 anos. Muitas mulheres são destaque por fazerem a diferença na sua época, porém, destaco Malala, por ser um símbolo contemporâneo da luta pelos direitos das mulheres e do direito das meninas de ir à escola, tendo recebido o Nobel da Paz aos 17 anos”.
Cristina Eliza Pozzobon - "Admira Eronita, Cátia e Onilse. Admiro a todas que humana e constantemente se reinventam, "sacodem a poeira e dão a volta por cima", com garra e sem perder a ternura. Para citar nomes, na esfera profissional sou inspirada pelas duas mulheres que ocuparam/ocupam o cargo de Reitora da Unijuí, professoras Eronita e Cátia. Na esfera pessoal, faço referência à Onilse, minha mãe. Percebo que as três mencionadas, no seu tempo, sabiamente sempre zelaram e lutaram por avanços e condições de igualdade a todos”.
Maria do Carmo Pelissão - "Admiro Madre Teresa de Calcutá. O nome Teresa foi adotado em 1931, quando a madre foi para a Índia, dando início à sua vida de missão humanitária. Foi professora e onze anos após sua chegada, deixa o convento para fundar a congregação religiosa das Missionárias da Caridade. As primeiras a se juntarem a ela nesse trabalho foram suas antigas alunas. Assim, foi morar nas favelas indianas e a partir da década de 50 trabalha na construção de locais de acolhimento, hospitais e escolas. Dedicou sua vida aos pobres, crianças e doentes”.
Eronita Barcelos – “Mulheres admiráveis temos muitas, mesmo no tempo em que precisavam superar a submissão como o grande "mérito" de terem nascido mulheres. Mas ser mulher sempre foi mais que isso. É ter a ousadia de mostrar seus talentos frutos de sua reflexão e criatividade, mesmo auridas nas vivências cotidianas, como fez Cora Coralina, por exemplo. Há escritoras, militantes sociais, religiosas, professoras, pesquisadoras, médicas e de outras tantas áreas que eu poderia dizer que admiro muito. Hoje, porém, quero registrar duas mulheres admiráveis que me inspiraram: minha mãe Othilia e a primeira professora com quem tive contato, Gessi Bueno, ambas já falecidas”.