A inclusão requer um processo de aprendizado e adaptação por parte de toda a sociedade. Há ainda um longo caminho a ser percorrido para permitir que todos possam viver com igualdade, levando em conta as diferenças que constituem a vivência de cada um. Na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, vamos abordar, em uma série de reportagens, um aspecto em especial referente à inclusão: o acesso à educação e ao mercado de trabalho. Fomos em busca de histórias e de informações para entender como é a Universidade para quem não consegue enxergar, falar, caminhar ou escutar.
A imagem acima mostra a equipe do Núcleo de Acompanhamento e Acessibilidade Institucional (NAAI) e também Fernanda, Laura e Cristian, que têm as suas histórias contadas no texto abaixo.
"Vocês usam as pernas para se locomover, eu uso a cadeira de rodas, essa é a única diferença entre nós", disse Laura Mensch Pereira, para os colegas de trabalho que lotavam o auditório para assistir à palestra “A inclusão na Universidade: Experiências e práticas”. Laura é egressa do curso de Ciências Biológicas da Unijuí e atualmente atua como técnica-administrativa na Universidade. Em sua fala, ela explicou que utiliza a cadeira de rodas devido à uma doença chamada osteogenese imperfeita, que causa deficiência na produção de colágeno do tipo 1 (principal constituinte dos ossos), gerando quadros graves de osteoporose. Ela também contou sobre as adaptações necessárias para que possa ser o mais independente possível na sua rotina e as adaptações necessárias quando era estudante: “Foram adaptadas as bancadas dos laboratórios”, exemplificou.
Fernanda Santos, estudante de Psicologia, que trabalha no Núcleo de Acompanhamento e Acessibilidade Institucional (NAAI) da Unijuí, falou logo em seguida. Fernanda nasceu sem o sentido da visão. Em sua fala, mais de uma vez, abordou a questão do tratamento diferenciado que muitas vezes recebe: “A maioria das pessoas trata um cego levando em conta as diferenças e não precisamos de tratamento diferente, sinto que alguns sentem até medo de conversar e isso não é necessário”, destacou. Ela diz entender que ainda há muito o que fazer pela inclusão e que é preciso ter paciência até que o mundo se adapte. Por outro lado, ressaltou que há sempre alguém disposto a ajudá-la: “fico poucos minutos na parada após descer do ônibus no campus, porque logo vem alguém me auxiliar”.
Com o auxílio da intérprete, Cristian Rafael de Paula, que é surdo, também se manifestou durante a palestra. Ele é estudante de Design, trabalha na Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques e é também professor no curso de Libras da Unijuí. Assim como Fernanda, ele também ressaltou a importância da comunicação: “Podem se comunicar comigo por bilhete, por celular, existem meios além da libras, mas quando vim trabalhar aqui meus colegas buscaram aprender a linguagem, eles procuraram formas para se comunicar comigo e, para mim, isso é inclusão”.
O compartilhamento dessas experiências permitiu entender um pouco sobre a vivência, mas o fato é que ainda é necessário muito diálogo e muito trabalho para que exista a inclusão. “Ela não se dá por decreto e não é uma tentativa de igualar: a inclusão significa reconhecer as diferenças e respeitar as singularidades”, defende Marta Estela Borgmann, professora e coordenadora do Núcleo de Acompanhamento e Acessibilidade Institucional (NAAI). Ela diz ainda que, quando se trata de educação, a missão deve ser romper as barreiras que dificultam o aprendizado. E, quando o assunto é mercado de trabalho, é preciso equiparar as oportunidades e abandonar qualquer visão de pena que possa existir em relação às pessoas com deficiência.
A galeria de fotos abaixo mostra a equipe do Núcleo de Acompanhamento e Acessibilidade Institucional (NAAI) e Fernanda, Laura e Cristian durante o evento “A inclusão na Universidade: Experiências e práticas”
Inclusão na Unijuí - Segundo o gerente da Coordenadoria de Recursos Humanos da Unijuí, José Luis Bressam, 50 pessoas que atuam na Instituição, entre professores e técnicos-administrativos, possuem alguma deficiência. “Possuímos um edital permanente aberto para a contratação de pessoas com deficiência, para cadastro de currículo”, explica. Além disso, o gerente ressalta que a Universidade busca sempre fazer a adaptação dos espaços físicos, com instalação de rampas, elevadores e sinalização para facilitar a vida dos estudantes, funcionários e também visitantes. "Investimos também em cursos de formação como o de Libras, para melhorar a comunicação entre todos que convivem neste espaço", afirma.
Para auxiliar no processo de inclusão, a Instituição possui o NAAI. O Núcleo existe desde 2006, inicialmente atuou como um programa de atendimento ao estudante com deficiência. No ano de 2015 ele foi ampliado com a contratação de uma psicóloga e de uma assistente social. De acordo com Marta Borgmann, os relatórios da Instituição demonstram que há muitos avanços, mas ainda são necessários ajustes na estrutura física para proporcionar cada vez mais acessibilidade para as pessoas com deficiência, principalmente cegos e cadeirantes. Ela ressalta também que é preciso sempre trabalhar a educação continuada para que os professores conheçam e estejam preparados para lidar com questões que são específicas das deficiências, mas destaca que a Universidade está cada vez mais preparada para receber e já formou pessoas com deficiência.