Lideranças comunitárias que participaram do movimento social que marcou a década de 60 estiveram conversando com alunos do Mestrado e Doutorado em Educação nas Ciências
O Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências promoveu um momento histórico na tarde de quarta-feira, 22, no Campus da UNIJUÍ, com a participação de lideranças comunitárias da região que atuaram no Movimento Comunitário de Base de Ijuí (MCBI). O Movimento, articulado no começo da década de 60, resultou numa significativa experiência histórica de prática do cooperativismo e do associativismo, com forte ligação com a história da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ijuí (FAFI), instituição que deu origem á FIDENE/UNIJUÍ.
A atividade, coordenada pelo professor Walter Frantz, reuniu alunos das disciplinas de “História, concepções e métodos em espaços de Educação Popular” e de “Epistemologia da Educação Popular em Espaços de Cooperação”, respectivamente disciplinas dos cursos de Mestrado e do Doutorado em Educação nas Ciências. Os alunos puderam assistir aos relatos de Carlos Karlinski, Valdenor Flores da Fonseca, Israel Fernandes da Rocha, Euclides Marino Gabbi e Fredolino Eickhoff, que participaram ativamente da origem do Movimento. Também participou do encontro o professor Argemiro Jacob Brum, que igualmente possui uma trajetória significativa de atuação com o ensino superior e com os movimentos sociais na região.
Conforme destacou o professor Walter Frantz, a ideia de promover o encontro entre os alunos do Programa de Pós-Graduação com as lideranças que participaram da origem do MCBI se explica pela constituição das duas disciplinas, ambas com raízes na história do MCBI. “As disciplinas procuram refletir sobre dimensões da educação popular presentes em processos associativos e de cooperação com vistas a aportes teóricos e pedagógicos”. Além de promover o diálogo sobre a história do MCBI, do associativismo e do cooperativismo, o encontro também celebrou os 50 anos do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ijuí, que por coincidência estavam sendo comemorados no dia 22 de agosto.
Mobilização na década de 60
Conforme destaca o professor Walter Frantz, na década de 1960, no Brasil, ocorreram movimentos sociais pela conquista de melhores condições de vida e mais participação nos resultados da produção, isto é, por democratização econômica e também política. Além disso, houve movimentos por uma educação, voltada para as camadas populares desfavorecidas. “Subjaz a esses movimentos um esforço, da parte de diversas tendências ideológicas e interesses, no sentido de influenciar o comportamento dessas camadas populares, diante de mudanças sociais que se operavam no País. A educação passava a ser entendida e usada como um instrumento adequado de organização e mobilização das camadas populares”, salienta.
No mesmo período, a região Noroeste do Estado sofria também mudanças substanciais: no setor de produção primária, através da modernização de suas atividades, e, no setor urbano, através da substituição de produção local por produtos vindos de fora. As inovações não ofereciam soluções aos problemas da maioria da população, predispondo a reações.
Sob a coordenação do núcleo de Ciências Sociais, da FAFI – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ijuí, os debates sobre o desenvolvimento comunitário, conduziram à formação do MCBI – Movimento Comunitário de Ijuí. Em 22 de agosto de 1961, nasceu uma histórica experiência de mobilização e organização social, afirmando “que somos uma comunidade” na qual todos são solidários uns dos outros e corresponsáveis pelo seu desenvolvimento.
Walter Frantz acrescenta ainda que o MCBI surgiu em contexto amplo, porém assumiu características peculiares. “Certas condições locais que lhe imprimiram essa peculiaridade: presença do minifúndio, modernização da produção agrícola, a existência da Cotrijuí e da FAFI. A base para a sua motivação e fundamentação pode ser encontrada tanto no cenário nacional quanto nos problemas sociais locais”. O professor acrescenta ainda que, em sua essência, constituiu-se o MCBI em uma reação pela organização, tendo no associativismo e no cooperativismo suas bandeiras, transformando-se em uma experiência histórica importante de educação não formal, na região.
Dessa mobilização nasceu o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ijuí, que tem o MCBI como referência histórica de sua fundação, em 26 de junho de 1963. Sua Carta Sindical é de 31 de novembro de 1965. No entanto, a mobilização sindical rural, inicialmente, teve dois sindicatos, em Ijuí: O Sindicato dos Produtores Autônomos e o dos Trabalhadores nas Lavouras, que tiveram suas diretorias constituídas em 20 de novembro de 1962. Em 16 de novembro de 1965, com o objetivo de se adequar à legislação da época, ocorreu a fusão das duas entidades. “Portanto, há cinco décadas, afirmava-se uma importante história de lutas sociais, em favor de quem vive do trabalho rural”, destaca Frantz.
A UNIJUÍ teve no MCBI uma de suas experiências mais expressivas, no campo de atuação da educação não formal. Walter Frantz destaca que, “sem dúvida, a experiência foi marcante no próprio desenvolvimento da Universidade, marcando a sua natureza comunitária, o seu projeto acadêmico. Muitos de seus projetos e atividades só podem ser explicados ou entendidos, fazendo-se a referência histórica ao Movimento Comunitário de Base”, conclui.
Obs: Na primeira foto, acima, estão Fredolino Eickhoff, Euclides Marino Gabbi, Israel Fernandes da Rocha, Valdenor Flores da Fonseca e Carlos Karlinski, pioneiros na organização do MCBI. Abaixo, imagens do encontro: