Estudo do residente Alexsander Kucharski analisou caso no município de Cândido Godói, mas resultados podem servir para qualquer desastre natural |
Uma pesquisa de conclusão do Programa de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade da UNIJUÍ e Fundação Municipal de Saúde de Santa Rosa observou o comportamento da população do município de Cândido Godói, após um temporal atingir o município. A pesquisa identificou a ocorrência de estresse pós- traumático em parte da população. O estudo analisou este município, mas os resultados podem servir de exemplo para situações idênticas ocasionadas por qualquer desastre natural.
O temporal atingiu o município em outubro de 2007. Uma forte chuva de granizo destruiu o telhado de 800 residências, deixando parte da população desabrigada. Não houve mortes, mas os danos psicológicos foram grandes. Com o título ‘Estudo de Estresse Pós Traumático Desencadeado por Catástrofe Natural’ o residente Alexsander Kucharski observou o comportamento de moradores do município de Cândido Godói após o temporal.
Ele identificou que após este evento aumentou o consumo de antidepressivos na farmácia da secretaria municipal de saúde e muitas pessoas apresentaram crises de ansiedade; muitas crianças passaram a ser tratadas por transtorno de estresse pós-traumático; além disto, muitos moradores do município referiam os sintomas cada vez que o tempo “estava para chuva”. O trabalho de Alexsander buscou identificar como a comunidade reage quando exposta a este tipo de estresse.
Alexsander começou a residência em março de 2009. Neste período iniciou um estágio na Estratégia de Saúde da Família do município de Cândido Godói, que seguiu até dezembro de 2009. Nos atendimentos aos pacientes, percebeu um alto consumo de medicamentos antidepressivos. Questionou então os colegas de trabalho, que afirmaram que o consumo destes medicamentos aumentou após o temporal do final de 2007. A psicóloga também afirmou a presença de estresse pós-traumática em crianças.
A partir desta descoberta, o residente buscou identificar cientificamente as consequências do temporal, se realmente o consumo de medicamentos antidepressivos estava ligado ao fato. Alexsander começou uma pesquisa bibliográfica sobre o tema e, em seguida, uma pesquisa qualitativa com casos e diagnósticos de famílias atingidas pelo temporal. Foi realizado um grupo focal, que procurou questionar as famílias sobre suas atitudes antes, durante e depois do temporal.
Ele explica que quando uma pessoa passa por uma situação traumática, depois do ocorrido ela usa o medo como forma de defesa: “é um mecanismo de defesa natural do ser humano. As pessoas passaram a ter receio que a cena se repita repetida. Em alguns casos este "medo" passa a atrapalhar a vida das pessoas”.
Como consequência, identificou-se no estudo que as pessoas começaram a apresentar sintomas físicos tais como: insônia, pesadelos, falta de ar e até vômito e diarréia. O desempenho escolar e no trabalho também pode ser afetado. Pode haver abuso do consumo de álcool e drogas.
Ele explica que em casos de desastres com mortes, a situação é mais grave, mas que o ocorrido em Cândido Godói em outubro de 2007 foi o suficiente para causar estresse pós-traumático em adultos e crianças. As pessoas passaram a proteger mais suas residências e apegaram-se mais a questões religiosas.
Como sugestão após finalizar o estudo, para gestores públicos, é que existam programas de prevenção e gestão de catástrofes: “os municípios, o estado e o governo federal devem ter uma estrutura formada para atender vítimas de desastres naturais: médicos psiquiatras, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, tudo isto de forma hierarquizada para dar mais agilidade na assistência”. As atividades devem ocorrer antes, durante e depois do desastre.
Ele conta que já havia menção ao estresse pós-traumático desde a época da 1ª Guerra Mundial, quando soldados voltavam da guerra com sintomas de ansiedade, como pesadelos e alcoolismo. Ele diz que hoje ainda podem existir em Cândido Godói pessoas com estresse pós-traumático devido ao temporal: “o tempo em que o transtorno permanece depende do evento e da característica de cada pessoa”. O diagnóstico deve ser o mesmo em qualquer população que sofre com desastres naturais ou qualquer tipo de trauma.