Série de reportagens sobre Pesquisa na UNIJUÍ apresenta o projeto “Mecanização da Agricultura Familiar”, coordenada pelo professor Antonio Carlos Valdiero |
Situação comum da agricultura familiar: em uma pequena propriedade rural, um casal de produtores dá início à colheita do capim-limão, planta aromática também conhecida como erva-cidreira. Na medicina popular, o chá de erva-cidreira é bastante utilizado como calmante, e as folhas da planta, colhida em média três vezes por ano, têm aproximadamente 0,3% de óleo essencial, cujo principal componente é o citral, empregado na indústria de alimentos e na perfumaria. E, manualmente, o casal começa a colheita: munido de um facão, o homem se agacha e passa a cortar as folhas um pouco acima da raiz, e sua esposa se esforça para recolher as plantas colhidas.
Por outro lado, na realidade do mercado brasileiro de máquinas agrícolas, formado por empresas como John Deere, Massey Ferguson e CNH Global (fusão entre Case Corporation e New Holland e sob controle majoritário da Fiat Industrial), valores altíssimos circulando e comemorações das fabricantes por conta do constante crescimento do setor. De acordo com reportagem recente do jornal “O Estado de S.Paulo”, de maio de 2010 a abril de 2011 foram vendidas, entre colheitadeiras e tratores, 66,8 mil unidades, um crescimento de 6% em relação a igual período anterior, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Na maior feira da América Latina no setor, a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), os negócios movimentaram R$ 1,5 bilhão na edição deste ano, de 2 a 6 de maio.
EM BENEFÍCIO DO PEQUENO PRODUTOR
Aqueles são valores satisfatórios para o mercado, mas que certamente não chegam às conversas diárias dos pequenos produtores. Mesmo que lhes fosse mais do que imprescindível, dificilmente conseguiriam adquirir estas máquinas produzidas no mercado atual – e é voltado a eles que o trabalho de pesquisa da UNIJUÍ “Mecanização da Agricultura Familiar” desenvolve suas atividades.
“Mesmo que o pequeno produtor consiga adquirir uma máquina destas, ele terá custos altos com a manutenção, porque as peças são muito caras, principalmente os sistemas hidráulicos. E os tratores menores destas fabricantes nada mais são do que uma miniatura dos grandes, ou seja, os custos seriam igualmente altos para o agricultor”, avalia o coordenador da pesquisa, o professor Antonio Carlos Valdiero, de Engenharia Mecânica, no Campus Panambi. “Então, neste projeto, desenvolvemos o protótipo de um pequeno trator, uma máquina toda modular e com peças mais baratas, que teria um custo inicial bem menor para o agricultor e permitiria que ele mesmo fizesse a manutenção. Não é certo que ele tenha de colher, por exemplo, seis, oito hectares manualmente”, acrescenta.
Um dos grandes objetivos de Valdiero, o trator – que pode ter um motor de 4 a 12 HP – ainda não chegou às mãos do pequeno produtor. A pesquisa – que atualmente tem três alunos bolsistas e em 2008 foi vencedora do Prêmio Gerdau Melhores da Terra na categoria Pesquisa e Desenvolvimento (Nível Profissional) – se iniciou em 2005 e tem uma máquina montada, que fica no Campus Panambi e já passou por várias transformações, e que hoje precisa de uma carenagem, do aprimoramento da parte elétrica, entre outros pontos, os quais também envolvem questões de segurança.
FALTA DE VERBAS, MAS NÃO DE SONHOS
A máquina, na qual podem ser acopladas lâminas para a colheita, surgiu com duas rodas, situação em que o agricultor trabalharia em pé na hora de colher. Depois, ganhou mais duas rodas – e um banco, um volante e uma caixa de câmbio. E hoje há estudos para acoplar uma plantadeira na parte traseira do trator. “Você acha que esse pequeno produtor não compraria um trator de baixo custo, em que uma pessoa poderia fazer um serviço que valeria por muitas? É claro que sim, e esta foi a ideia”, questiona Paulo Eduardo Cabral, bolsista CNPq da pesquisa, a qual tem outros professores na equipe. O agricultor poderia optar por qualquer uma das versões: com duas rodas, com quatro ou com a plantadeira; também, com caixa de câmbio ou sem – sem caixa, não teria variações de velocidade. Caso o trator seja concluído e chegue à indústria, ela seria a responsável pela fabricação – a UNIJUÍ desenvolve apenas o protótipo. Apenas para se ter uma ideia de valores, hoje a máquina “completa” teria um custo de produção artesanal de aproximadamente R$ 10 mil – neste valor não está computada a mão de obra.
No ano de 2005, quando a pesquisa se iniciou, ela recebeu, por meio de edital FAPERGS/PROCOREDES II, um auxílio financeiro de R$ 24.193,00. Hoje, faltam verbas para um progresso maior do projeto, mas os trabalhos continuam normalmente na pesquisa, com os bolsistas atuando, por exemplo, no aprimoramento dos desenhos do protótipo. “No começo o trator foi criado apenas para a colheita de plantas aromáticas, mas hoje tem outras opções desenvolvidas. Aumentaria bastante a produtividade do agricultor”, relata Giovani Locatelli, bolsista PIBIC/UNIJUÍ da pesquisa, a qual ainda tem a atuação de Uilian da Silva Piuco, bolsista FAPERGS.
O professor enfatiza que falta incentivo para a mecanização adequada da agricultura familiar no país – mas Valdiero e sua equipe de pesquisa continuarão, com força, a perseguir seus objetivos. “Falta apoio financeiro para terminarmos esta pesquisa, e falta o empresário se interessar pelo pequeno produtor. É tudo questão de incentivo. Mas nosso maior interesse é ver esta máquina no campo, e vamos continuar. É melhor ter sonho e não ter dinheiro do que ter dinheiro e não ter sonho, não saber onde investir”, conclui um esperançoso Valdiero.
Texto e fotos: Acadêmico Murian Cesca, do Curso de Comunicação Social – Jornalismo, no Componente de Jornalismo Especializado, sob orientação do professor Márcio Granez
Legenda das fotos: na ordem, duas fotos de Paulo Eduardo Cabral e Giovani Locatelli, dois dos bolsistas, e o professor Antonio Carlos Valdiero, coordenador da pesquisa, com a máquina; equipe do projeto está pesquisando a melhor maneira de acoplar uma plantadeira à parte de trás do trator; bolsistas trabalhando no aprimoramento do desenho do protótipo.
Por outro lado, na realidade do mercado brasileiro de máquinas agrícolas, formado por empresas como John Deere, Massey Ferguson e CNH Global (fusão entre Case Corporation e New Holland e sob controle majoritário da Fiat Industrial), valores altíssimos circulando e comemorações das fabricantes por conta do constante crescimento do setor. De acordo com reportagem recente do jornal “O Estado de S.Paulo”, de maio de 2010 a abril de 2011 foram vendidas, entre colheitadeiras e tratores, 66,8 mil unidades, um crescimento de 6% em relação a igual período anterior, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Na maior feira da América Latina no setor, a Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), os negócios movimentaram R$ 1,5 bilhão na edição deste ano, de 2 a 6 de maio.
EM BENEFÍCIO DO PEQUENO PRODUTOR
Aqueles são valores satisfatórios para o mercado, mas que certamente não chegam às conversas diárias dos pequenos produtores. Mesmo que lhes fosse mais do que imprescindível, dificilmente conseguiriam adquirir estas máquinas produzidas no mercado atual – e é voltado a eles que o trabalho de pesquisa da UNIJUÍ “Mecanização da Agricultura Familiar” desenvolve suas atividades.
“Mesmo que o pequeno produtor consiga adquirir uma máquina destas, ele terá custos altos com a manutenção, porque as peças são muito caras, principalmente os sistemas hidráulicos. E os tratores menores destas fabricantes nada mais são do que uma miniatura dos grandes, ou seja, os custos seriam igualmente altos para o agricultor”, avalia o coordenador da pesquisa, o professor Antonio Carlos Valdiero, de Engenharia Mecânica, no Campus Panambi. “Então, neste projeto, desenvolvemos o protótipo de um pequeno trator, uma máquina toda modular e com peças mais baratas, que teria um custo inicial bem menor para o agricultor e permitiria que ele mesmo fizesse a manutenção. Não é certo que ele tenha de colher, por exemplo, seis, oito hectares manualmente”, acrescenta.
Um dos grandes objetivos de Valdiero, o trator – que pode ter um motor de 4 a 12 HP – ainda não chegou às mãos do pequeno produtor. A pesquisa – que atualmente tem três alunos bolsistas e em 2008 foi vencedora do Prêmio Gerdau Melhores da Terra na categoria Pesquisa e Desenvolvimento (Nível Profissional) – se iniciou em 2005 e tem uma máquina montada, que fica no Campus Panambi e já passou por várias transformações, e que hoje precisa de uma carenagem, do aprimoramento da parte elétrica, entre outros pontos, os quais também envolvem questões de segurança.
FALTA DE VERBAS, MAS NÃO DE SONHOS
A máquina, na qual podem ser acopladas lâminas para a colheita, surgiu com duas rodas, situação em que o agricultor trabalharia em pé na hora de colher. Depois, ganhou mais duas rodas – e um banco, um volante e uma caixa de câmbio. E hoje há estudos para acoplar uma plantadeira na parte traseira do trator. “Você acha que esse pequeno produtor não compraria um trator de baixo custo, em que uma pessoa poderia fazer um serviço que valeria por muitas? É claro que sim, e esta foi a ideia”, questiona Paulo Eduardo Cabral, bolsista CNPq da pesquisa, a qual tem outros professores na equipe. O agricultor poderia optar por qualquer uma das versões: com duas rodas, com quatro ou com a plantadeira; também, com caixa de câmbio ou sem – sem caixa, não teria variações de velocidade. Caso o trator seja concluído e chegue à indústria, ela seria a responsável pela fabricação – a UNIJUÍ desenvolve apenas o protótipo. Apenas para se ter uma ideia de valores, hoje a máquina “completa” teria um custo de produção artesanal de aproximadamente R$ 10 mil – neste valor não está computada a mão de obra.
No ano de 2005, quando a pesquisa se iniciou, ela recebeu, por meio de edital FAPERGS/PROCOREDES II, um auxílio financeiro de R$ 24.193,00. Hoje, faltam verbas para um progresso maior do projeto, mas os trabalhos continuam normalmente na pesquisa, com os bolsistas atuando, por exemplo, no aprimoramento dos desenhos do protótipo. “No começo o trator foi criado apenas para a colheita de plantas aromáticas, mas hoje tem outras opções desenvolvidas. Aumentaria bastante a produtividade do agricultor”, relata Giovani Locatelli, bolsista PIBIC/UNIJUÍ da pesquisa, a qual ainda tem a atuação de Uilian da Silva Piuco, bolsista FAPERGS.
O professor enfatiza que falta incentivo para a mecanização adequada da agricultura familiar no país – mas Valdiero e sua equipe de pesquisa continuarão, com força, a perseguir seus objetivos. “Falta apoio financeiro para terminarmos esta pesquisa, e falta o empresário se interessar pelo pequeno produtor. É tudo questão de incentivo. Mas nosso maior interesse é ver esta máquina no campo, e vamos continuar. É melhor ter sonho e não ter dinheiro do que ter dinheiro e não ter sonho, não saber onde investir”, conclui um esperançoso Valdiero.
Texto e fotos: Acadêmico Murian Cesca, do Curso de Comunicação Social – Jornalismo, no Componente de Jornalismo Especializado, sob orientação do professor Márcio Granez
Legenda das fotos: na ordem, duas fotos de Paulo Eduardo Cabral e Giovani Locatelli, dois dos bolsistas, e o professor Antonio Carlos Valdiero, coordenador da pesquisa, com a máquina; equipe do projeto está pesquisando a melhor maneira de acoplar uma plantadeira à parte de trás do trator; bolsistas trabalhando no aprimoramento do desenho do protótipo.