Projeto Rondon seleciona estudantes para nova operação em julho - Unijuí

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Confira as informações sobre o Edital e um depoimento de estudante da Unijuí que já participou do Projeto Rondon.

                 
       

A Unijuí, por meio da Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão, está realizando seleção para bolsistas do Projeto Rondon. Os estudantes selecionados participarão de uma nova operação, denominada “João de Barro”, que será realizada no mês de julho, em municípios do Piauí. O período de inscrições vai até o dia 12 de março de 2019.

Serão selecionados oito estudantes dos seguintes cursos: Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Ciências Biológicas, Bacharelado, Engenharia Civil, Jornalismo, Medicina Veterinária e Nutrição. É necessário preencher Formulário de Inscrição, disponível na página de Editais e Informes da Universidade e entregar os demais documentos exigidos em envelope que contenha, na parte externa, as seguintes informações: “Projeto Rondon 2019 – Operação João de Barro, nome do estudante e respectivo curso”. Além disso, serão observados outros critérios, como estar cursando a segunda metade do curso de graduação na Unijuí, exceto formandos, ter um bom desempenho acadêmico, não ter participado de operações anteriores do Projeto Rondon, entre outros aspectos.

Na segunda fase de seleção serão realizadas entrevistas com os candidatos, além de encontros e capacitações. A Operação ocorrerá de 12 a 28 de julho de 2019. Informações adicionais podem ser obtidas com a Assessoria de Extensão da VRPGPE pelo telefone (55) 3332-0200 – Ramal 2042 ou pelo e-mail pr@unijui.edu.br.

Confira depoimento da estudante Juliana Andreatta, que integrou a operação Parnaíba no início deste ano:

“BAGAGENS DO RONDON: AS LIÇÕES QUE TROUXEMOS”

Muitos afirmam: “há vários brasils dentro do Brasil”. É uma frase curiosa, que provoca a reflexão: o que, exatamente, ela quer nos expressar? Assistir pela televisão o que existe em cada cantinho desse país até possibilita a dimensão do quão rico é. Porém, vivenciar faz cada um sentir na pele que a sua realidade não é a única e não é melhor do que qualquer outra.

Saímos do Rio Grande do Sul, de nossas casas, nossas famílias, nossos antigos amigos, para conhecermos um lugar tão especial, que nos recebeu de maneira tão acolhedora. Através do Rondon, o maior projeto de extensão do Brasil, chegamos ao estado do Piauí, no nordeste do país, com a expectativa de conhecer um outro recanto dessa nação e deixar marcada a experiência em nosso ser. E não é que estávamos certos?

Nosso destino foi Cabeceiras do Piauí, município no qual foram realizadas oficinas em 20 núcleos de ação (povoados maiores e a sede), que possibilitou a participação de 95 comunidades. Mais de 900 pessoas se envolveram mas atividades, questionando, rindo, contando causos, mas também nos transmitindo seus conhecimentos. O lugar nos marcou pelas suas belezas, mas além dele, as pessoas conquistaram espaço em nossos corações. E entre tantas pessoas, algumas se destacaram, por representar a alma do povo cabeceirense: pessoas guerreiras, de fé e amantes de sua terra.

Conhecemos um senhor, que no auge dos seus 76 anos, abriu sua bagagem de vida, longa e rica de história. Nascido em Cabeceiras, filho de pais trabalhadores rurais, ou lavradores, como a maioria dos moradores se identifica, viveu desde cedo produzindo alimentos para o consumo, criando animais soltos, da forma tradicional local, e se adaptando ao clima, que às vezes ajudava, outras vezes nem tanto. A melhor época para cultivar é entre dezembro e junho, quando se caracteriza o inverno no nordeste, com mínimas de 25 graus. Nesse período a chuva faz reviver o verde de um território que seca entre os meses de julho e novembro. E em meio disso, o senhor cresceu, se casou, teve filhos, e quando os mesmos estavam um tanto crescidos, a família se mudou para Camaçari, onde ele trabalhou em um polo petroquímico. Anos depois, mudaram-se para a capital Teresina, onde realizou funções em uma fábrica de bebidas.

Porém, como para muitos outros moradores de Cabeceiras, as raízes não deixam seus nascidos irem embora para sempre. Cerca de 30 anos após a partida ele volta para seu município de origem, voltando ao lar de seus pais, mas deixando na capital seus filhos. Nos dias atuais, vive como se vivia na sua infância, cuidando da terra e dos animais. “A vida de lavrador é puxada, sim. É preocupante o ano em que o inverno não é bom. Daí se preocupa pela falta de chuva, muita gente perde a planta, a gente perde na safra, não chove, não dá nada. A vida de nós, lavradores, é assim, tem muito perigo quando o inverno é fraco”. Mesmo sendo difícil, deixar o lugar não é mais uma possibilidade para ele, pois, mesmo já tendo saído, o amor fez voltar. “Eu amo o lugar onde nasci e me criei. Deixei meu pai, minha mãe, mas em 2003 voltei. Nunca perdi o gosto de morar aqui, o lugar que eu adoro e nunca esqueci”.

Conversar com os jovens também foi a oportunidade de conhecer um pouco dos seus sonhos e suas percepções sobre suas realidades. Conhecemos uma jovem que descobriu no artesanato uma paixão e um talento. Em meio a uma realidade com poucas oportunidades de emprego, ela passou a apreciar as artes, produzindo em E.V.A quadros e vasos de flores, além de objetos em gesso. Seu trabalho começou a ficar conhecido entre seus vizinhos e parentes. Devido às distâncias dentro do próprio município, ela não teve a oportunidade de vender suas peças para outros mercados. Mesmo diante das adversidades, a vontade de fazer diferente fez manter o trabalho naquilo que lhe encheu os olhos e o coração.

A força da mulher também mostrou sua representatividade em meio a luta diária. Descobrimos uma senhora, trabalhadora raiz de um lugar onde é necessário se adaptar conforme as disponibilidades. Ela é pescadora, e também lavradora. Junto com o marido administra duas funções para, quando uma for suspensa, a outra possa dar continuidade. É sócia da colônia de pescadores do município. Do rio Maratauã, a tarrafa e os anzóis ajudam a recolher o alimento para o consumo. A quantidade é suficiente, as vezes, para a semana, mas não para sobras ou para vendas. “A atividade da pesca não é fácil, não. É cansativa. A pessoa sai à noite, volta de manhã”.

De dezembro a abril o consumo é ainda mais limitado, devido a necessidade de respeitar a época da piracema. Durante este período recebem o seguro, e a lida na lavoura ganha maior atenção. Na roça cultivam arroz, feijão, mandioca e milho. Produzem farinha de mandioca, mas a saída é fraca e a venda da raiz também é difícil. “A gente trabalha para isso, para ter o feijão, o arroz, o milho pro trato dos animais. É assim a luta do interior. Não é fácil, não”. Perante toda a batalha diária, o amor pelo lugar prevalece mais uma vez, e se destaca em meio a todo o esforço. “Nasci e me criei aqui e não penso em sair, não. A gente vive por conta, os filhos estão se formando para trabalhar fora, mas a gente já tem a raiz. A gente vai viver aqui, até o dia que Deus quiser”.

O que levamos nós, extensionistas, de tudo isso? Levamos o ensinamento de saber dar valor a cada coisa que temos é o que constrói nossa felicidade. O pouco ou o muito que temos não é nada se não soubermos viver e se não tivermos a noção para perceber que somos feitos daquilo que fazemos, que vivemos e que sentimos, e não do que temos.


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