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Projeto de Extensão da Unijuí se propõe a combater, em conjunto com órgãos da saúde, o mosquito transmissor da dengue, zika e outras doenças.
Organizar um jardim florido, colorido e bonito não é um desafio fácil e requer dedicação. Porém, o que pode parecer belo, muitas vezes esconde um inimigo público: sorrateiro, silencioso, pequeno e até letal, em alguns casos. O mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da Dengue, da Zika, e da febre Chikungunya escolhe recipientes com água, como os vasos de planta, por exemplo, para se proliferar.
Indivíduos, comunidade e instituições têm papel fundamental no combate desse inseto. A Unijuí, por exemplo, desenvolve, desde o início do segundo semestre de 2016, o Projeto de Extensão “Ações Interdisciplinares de Educação e Saúde para combate ao Aedes aegypti e Doenças Emergentes”.
O projeto é coordenado pelo professor Volnei de Almeida Teixeira e tem o objetivo de intensificar, junto à Coordenadoria Regional de Saúde, Exército, Vigilância Sanitária e Ambiental de Ijuí, os trabalhos de combate à proliferação do mosquito.
Esses órgãos se uniram para aumentar o grupo de agentes de vigilância que investigam os focos do mosquito. Estudantes dos cursos de Enfermagem, Nutrição, Farmácia, Fisioterapia, Ciências Biológicas e Medicina Veterinária vão passar por cursos de capacitação para atuar nas visitas pela cidade em busca de focos do mosquito.
De acordo com o professor coordenador, os estudantes fazem um treinamento para identificar o mosquito em suas três fases: larva, pupa e adulto (o ovo do mosquito, primeira fase, não é possível identificar, pois é invisível a olho nu) e obter informações que poderão tirar as dúvidas da comunidade. Agora, in loco, com os agentes de saúde do município, os estudantes participam das abordagens às pessoas e aplicam aquilo que aprenderam na capacitação.
Para além do trabalho de campo, os estudantes precisam estar atentos a qualquer característica do mosquito no seu local de reprodução e também nas análises de laboratório. Os estudantes investigarão as larvas colhidas nas visitas em busca de mais informação sobre o mosquito.
Conforme Volnei, a ideia do projeto, além de apoiar as ações de combate, é conhecer o transmissor. “A ideia é que tenhamos, não só a técnica de combate ao mosquito, mas também que a gente adquira um conhecimento biológico do Aedes, desde a reprodução, os hábitos e tudo mais”.
Alerta vermelho
A necessidade de desenvolver um projeto de combate ao Aedes aegypti ganhou força com a divulgação dos números alarmantes de casos de dengue no município em 2015. Nos primeiros seis meses do ano passado, 110 casos suspeitos de dengue foram notificados, segundo informações divulgadas pela Prefeitura Municipal. Destes, 101 foram confirmados.
Neste ano, de acordo com números divulgados no mês de abril, foram 111 casos de dengue. Destes, 5 importados e 106 autóctones, ou seja, contraídos dentro do município. Em todo o Brasil foram registrados, no mesmo período deste ano, 802.249 mil casos prováveis de dengue, segundo boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde.
O professor alerta para um fator determinante no combate ao problema. “Nós não podemos combater o mosquito adulto, porque não se acha ele, ele se esconde onde menos se imagina. Os ovos nós não podemos combater porque eles duram um ano, em condições completamente adversas, mesmo embaixo do gelo, no nosso inverno, para eclodirem no verão. Eles não são visíveis a olho nu. As chuvas e o calor, principais aspectos do verão, são “vitaminas para os ovos”, observa.
Volnei acredita que a eliminação das larvas, que surgem após os ovos eclodirem, dão resultados, mas não são suficientes para erradicar o mosquito. Isso só seria possível com a eliminação dos ovos, algo que ainda não é possível pelo perfil do mesmo, descrito acima.
“O que o pessoal está fazendo é combater em uma etapa que é mais fácil de combater, que é a etapa de larva. Que é possível enxergar na água, daí joga a água fora. Se extermina o mosquito dessa forma”, comenta o professor, que acredita que a saída é evitar os criadouros “se ele não tiver água, ele não se reproduz”.
Para essa saída, outro personagem fundamental entra em jogo: a comunidade. Em visitas a domicílio, os agentes fazem o papel de “fiscal do quintal”. Segundo Alan Fabrin da Silva, agente da Vigilância Ambiental, o trabalho do agente não seria tão importante se todas as pessoas soubessem cuidar de seus pátios e quintais.
Fernanda Knopp dos Santos, estudante do sexto semestre de Ciências Biológicas da Unijuí, acompanhou pela primeira vez os trabalhos junto aos agentes. Para ela, a opinião de Alan faz todo o sentido. “Seria uma coisa bem óbvia, algo que deveria ser automático, não deixar o lixo jogado no chão, mas parece que tem gente que não acha isso. Mas é importante que a gente aprenda e passe isso adiante”.