A Unijuí recebe todo ano estudantes de diferentes lugares do mundo para os cursos de graduação e pós-graduação. Com a crise causada pela Covid-19, eles permanecem no Brasil, distantes de seu país de origem e de seus familiares. Neste período de isolamento social, eles conversaram com a Rádio Unijuí FM sobre essa experiência.
Confira trechos do depoimento desses estudantes.
Érikson Gutiérrez, Advogado, peruano e estudante do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direitos Humanos
“Vim para Ijuí para estudar Direitos Humanos. Eu achei tudo muito legal, as pessoas eram muito atenciosas, foi como realizar um sonho. De um dia para outro, como se fosse de um sonho a um pesadelo, tudo mudou.
A quarentena chegou e as pessoas tinham medo de tudo e de todos. Quando nós saímos para as ruas nos primeiros dias da quarentena, as pessoas ficavam com um pouco de medo de nós pensando que por sermos estrangeiros tínhamos chegado agora trazendo a doença. Mas eu entendo. Entendo o medo e o pânico pela situação da Covid-19 (…).
“(...) É difícil ficar longe da família, porque nós ficamos pensando como eles estão e eles também ficam pensando como estamos. E estamos muito longe (...). Estamos tendo aulas online, tentando levar as coisas, mas por outro lado é bem difícil ficar aqui isolado de todo mundo e também de colegas e professores que poderiam nos ajudar.
(...) Já pensei em voltar para casa e desistir de tudo. Por mais que essa seja uma oportunidade que eu seja muito agradecido. Mas é muito difícil ficar longe da família nesse contexto. Lá no Peru as cidades não são muito grandes como no Brasil. Lá tem muitos prédios, muitas pessoas morando em uma casa só, então o risco de pegar a doença é maior.
(...) Lá o presidente está tomando medidas de fechar fronteiras, tem ordem de recolher. Ninguém pode sair para rua das 17h às 5h. Você é preso se você sair. Estão tentando controlar, mas só cresce. Esses últimos dias tem crescido demais o número de casos.
Lá fora (no exterior) se fala que o Brasil se encaminha para ter grande número de casos e a gente fica pensando como a gente vai ficar no meio disso tudo. O bom seria ficarmos com nossas famílias, mas estamos longe. Espero que tudo melhore logo.”
Amath Ndao, senegalês, estudante de Agronomia
"Bem, tudo o que eu posso dizer sobre esse período de isolamento é que eu me sinto muito bem como se estivesse em casa com minha família, no meu país.
Atualmente não saio, porque se preciso de alguma coisa entro em contato com o professor.
(...)Não tenho nada para fazer fora, pois tenho que respeitar as instruções dos médicos para minha saúde.
Minha família sempre recebe notícias (do Brasil) pelo whatsapp. Mas eu sempre asseguro que tudo está bem aqui. Meu tio me liga todos os dias para ter notícias sobre mim.
É verdade que às vezes tenho medo, me sinto sozinho, triste e preocupado com essa situação longe da minha família, mas nosso país é afetado menos que os outros países, embora seja claro a evolução dos casos suspeitos nas grandes cidades.
Atualmente a minha cidade ainda não foi afetada, mas a minha família ainda está preocupada com minha situação. Eu sempre digo a eles que estou muito bem e isso terminará em breve.
Não posso querer voltar porque a situação é a mesma, pois é uma pandemia e temos que fazer, rezar, orar para que a situação mude e volte ao normal, caso contrário será complicado."
Gaviota Karolina, colombiana e estudante do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direitos Humanos
“Meu voo de volta estava marcado para o dia 30 de março e foi cancelado uma semana antes por causa da crise da Covid-19. Depois disso, o meu país fez um série de medidas que primeiro eram voluntárias e depois obrigatório.
(...) O meu período de isolamento não está sendo muito ruim porque eu tinha que fazer as correções da minha dissertação, tenho muitas séries para assistir.
(...) Eu tenho saudade da minha família, eles estavam muito preocupados, mas eu to morando com dois amigos muito legais. E isso faz com que eles fiquem mais seguros, porque eu estou segura.
(...) Lá (na Colômbia) eles também estão obedecendo as orientações de isolamento e isso me deixa mais segura. Pelo menos até quando eu puder voltar e isso não ser um risco para mim e nem para eles.
(...) Não é fácil o isolamento fora de casa e longe do carinho da família, mas tem pessoas legais que fazem isso ser mais suportável.”
Aissatou Diouf, senegalês, estudante do curso de Agronomia
"Vocês sabem que o período de isolamento é muito difícil para cada um de nós, mais precisamente nós que vivemos em outro país. Tudo bem você ficar em casa, você não sair, você não ir trabalhar, ainda mais sua família se preocupar com você, porque também vivem a mesma situação que você.
(...) O presidente (do Senegal) faz uma declaração para recolhimento obrigatório de cada pessoa, (...) mas a população não pode fazer como aqui, ficar em casa, não sair, não ir ao trabalho, porque o Senegal é um país pobre, tem pessoas que não tem muito dinheiro para comprar muita comida e ficar em casa.
É muito difícil porque a sua família se preocupa com você, mas felizmente estamos confortáveis aqui, porque eu tenho uma segunda família aqui."
Jacqueline Ramirez, colombiana e estudante do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação nas Ciências
“Iniciamos o nosso isolamento em duas semanas, um isolamento voluntário levando em conta a habilidade social que temos na comunidade onde a gente mora.
Na Colômbia, há 10 dias mais ou menos, na Capital, Bogotá, a prefeita fez uma atividade voluntária de isolamento preventivo. Essa atividade virou uma quarentena decretada a nível nacional.
(...) A gente tem muita preocupação pela situação de lá, e pela situação do Brasil. Nós estamos aqui longe de nossas famílias, longe de nossas casas e sempre existe essa preocupação pelos amigos e pela família.
(...) Com certeza a gente não esperava uma situação dessas, mas eu acho que faz parte dos aprendizados que a gente precisa ter na vida e é um momento histórico que a gente está vivendo.
(...) Estamos em conexão permanente com nossos professores e colegas, isso também é muito importante para nós. No sentido de não estarmos sozinhos aqui no Brasil.”
Joclayn Job, angolano, estudante do curso de Ciências Contábeis
"Quanto a essa passagem de quarentena eu estou tranquilo, estou bem de saúde, mas meio preocupado como está se passando esse coronavírus.
Paralisaram as aulas e tive que me adaptar a partir do computador. Está sendo uma experiência boa para mim, mas a princípio foi meio que assustador, a gente ter que ficar dentro de casa.
(...) Não sei como vai ser, no meu país pelo que eu vi agora tem sete pessoas com coronavírus e duas já morreram. A situação também não está fácil, mas também está melhor que o Brasil. Lá tem sete e segundo o pessoal que eu converso, os familiares me disseram que lá está tranquilo, todo mundo está em quarentena também. É uma quarentena de 15 dias lá e eu acho que vai até dia 8 ou dia 10 de abril."