Na última sexta-feira, dia 14 de maio, a Disciplina de Agrotóxicos na Saúde e no Ambiente, ofertada pelo Programa de Pós-graduação em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade da Unijuí, coordenada pelo professor doutor Roberto Carbonera, contou com a presença do professor doutor César Koppe Grisolia, da Universidade de Brasília. Neste encontro, Grisólia apresentou à turma de mestrado, professores e demais estudantes da Universidade um pouco de sua experiência no contexto do uso dos agrotóxicos. Sua apresentação, intitulada “Exposição crônica a resíduos de agrotóxicos: o risco invisível”, trabalhou diversas abordagens acerca os perigos provenientes do uso destes químicos na agricultura e sua presença no ambiente, o que vem a contribuir para o surgimento de inúmeros problemas relacionados à exposição aguda e/ou crônica da população.
Os agrotóxicos são produtos químicos que vêm sendo utilizados em larga escala na agricultura, fato este que teve início na Segunda Guerra Mundial, em que estes produtos eram utilizados como arma química. Conforme destacou Grisólia, estes químicos muitas vezes ultrapassam as fronteiras da aplicação e, por este motivo, o cenário hoje é de múltipla exposição, já que os agrotóxicos estão presentes no ar que respiramos, na água que bebemos, nos alimentos que ingerimos, ou até mesmo pelo contato dérmico daqueles que trabalham diariamente com as aplicações nas lavouras.
A exposição aguda (ocupacional) ocasionada pelo contato direto com os agrotóxicos gera inúmeras reações, que podem desencadear reações imediatas a curto prazo, ou ainda, no decorrer dos meses. Um fato que chama a atenção e que foi abordado por Grisólia é que mesmo aqueles que vivem nos centros urbanos, distantes dos campos de cultivo e que nunca imaginariam estar expostos a estes químicos, também podem desencadear doenças devido às baixas concentrações destes químicos no organismo, visto outro tipo de exposição, a crônica. Grisólia ainda comenta que a presença de agrotóxicos no corpo das pessoas que vivem em ambientes urbanos têm forte relação com a carcinogênese e mutações genéticas devido às alterações epigenéticas.
As intoxicações a baixas concentrações e a sua forte relação com o câncer foi abordada de forma detalhada por Grisólia. O professor apresentou vários resultados os quais provêm de diferentes trabalhos realizados nessa linha de pesquisa. Dentre os tipos de câncer mais comuns há o de pulmão, sarcomas, leucemias, pele, próstata, mama, testículos, ovários, fígado e bexiga. Grisólia citou ainda sobre o livro “Pesticidas e químicos que desregulam o sistema endócrino'', literatura escrita por Carlos André Prauchner e editado pela Editora da Unijuí, sendo uma opção de leitura sobre parte do conteúdo que foi abordado por ele.
Também foi tema da apresentação a presença de resíduos de agrotóxicos nos alimentos. Uma abordagem foi feita em relação ao Limite Máximo de Resíduos (LMR), que diz respeito à concentração máxima de um agrotóxico expressa em mg kg-1 e que tem ligação direta com a Ingestão Diária Aceitável (IDA), caracterizada pela quantidade máxima ingerida diariamente, durante toda vida, que provavelmente não ofereceria risco apreciável à saúde, à luz dos conhecimentos atuais.
Levando em consideração estes tópicos, Grisólia apresentou dados referentes a um estudo em relação ao limite máximo de resíduos nos alimentos, comparando a presença de resíduos de alguns agrotóxicos utilizados nos cultivos no Brasil, e estes mesmos produtos quando utilizados nas plantações na União Européia, comprovando que ainda há muita disparidade em relação ao limite máximo de resíduos aceitável nos distintos locais. Agrotóxicos que têm um baixo limite máximo de resíduos nos alimentos produzidos na União Européia, no Brasil se encontram em níveis de até 400 vezes maior. Por fim, Grisólia faz um alerta que se o LMR estabelecido em um país é muito alto, nenhuma amostra de alimento será considerada contaminada e de uso não permitido.
Ao final do encontro, Grisólia comentou sobre seus estudos futuros e uma provável ligação entre os agrotóxicos e a ocorrência de microcefalia em crianças. Fato que ainda levará alguns anos de estudo para comprovação. Verificou-se que é trabalho de todos a busca por alternativas mais sustentáveis e que garantam produtividades satisfatórias sem que para isso seja necessária a exposição das pessoas aos perigos provenientes do uso desenfreado de agrotóxicos na agricultura. O momento em que vivemos exige soluções voltadas à manutenção da vida no planeta de maneira que novas alternativas já vêm sendo adotadas, gerando resultados muitas vezes acima do esperado.
Júlia Pess dos Santos, Natiane C. Ferrari Basso
Estudantes do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais e Sustentabilidade - PPGSA, Unijuí.