MEIO AMBIENTE: A CONTA CHEGOU - Unijuí

Argemiro Luís Brum, economista e professor Dr. do Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional da Unijuí

Não é de hoje que a economia ambiental é um dos elementos centrais que move a economia mundial. E daqui em diante a mesma deverá ganhar ainda mais espaço no cenário global, apesar de ser ignorada por diferentes governos, em um erro estratégico de visão futura. Um dos países míopes neste sentido tem sido o Brasil, principalmente no atual governo. E a conta, em função desta má gestão, começa a chegar. Especialmente após as declarações ocorridas na famosa reunião ministerial do dia 22/04. 

Assim, em junho de 2020, fundos de investimento mundiais, que movimentam perto de US$ 4 trilhões (cerca de 21 trilhões de reais ao câmbio de hoje), pediram, em carta aberta, que o país suspenda o desmatamento na Amazônia. Os mesmos ameaçam retirar seus investimentos no Brasil, assim como fazem pressão sobre grandes transnacionais do agronegócio que atuam no país e que a elas estão ligados. A ideia é forçar tais empresas a não mais comprarem produtos como soja e carne bovina produzidos na chamada Amazônia Legal. Ao mesmo tempo, atacam as mineradoras e passaram a defender a biodiversidade, e os povos indígenas locais. 

O governo brasileiro parece ter sentido “o golpe” porque, mesmo se mostrando a favor da exploração da região amazônica, imediatamente anunciou a produção de uma carta aos investidores internacionais. Em paralelo, recebeu uma carta de 38 empresas nacionais e estrangeiras e de quatro entidades ligadas ao agronegócio nacional, solicitando ações contra o desmatamento na Amazônia. Dentre estas empresas e entidades tem-se: Alcoa; Amaggi; Bayer; Cargill; Cosan; Eletrobras; Itaú; Jacto; Klabin; Marfrig; Michelin; Microsoft; Natura; Rabobank; Santander; Shell; Siemens; Suzano; Vale; Associação Brasileira do Agronegócio (Abag); e Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove). Da pressão política às ações comerciais, via boicote nas compras de produtos nacionais, com aplicação de medidas protecionistas sobre produtos brasileiros, é um passo. Passo que, se for dado, será um desastre ao nosso agronegócio e economia.

Se no Brasil a pressão em relação ao meio ambiente aumentou, na própria China, grande importador brasileiro de soja e carnes, além de minério de ferro, já há reações contrárias à postura do governo brasileiro sobre a Amazônia e o meio ambiente em geral. Naquele país, no dia 14/06 passado, o jornal South China Morning Post, do Grupo Alibaba, publicou ampla reportagem questionando as importações e os investimentos do país asiático na agropecuária brasileira e seu “efeito potencialmente devastador” para a floresta amazônica. 

Em um trecho da reportagem lê-se: “a crescente dependência de Pequim do suprimento de soja brasileiro é um desastre para os povos da região e sua floresta tropical”. É preciso que os governos nacionais e os brasileiros entendam que o choque climático e suas consequências está mudando a face do mundo, levando o sistema capitalista a investir cada vez mais em sua compreensão e atuação visando mitigar os efeitos nefastos já diagnosticados, alguns praticamente sem volta, sobre a humanidade. 

Há lideranças mundiais, dentre elas o Brasil atual, que insistem em ignorar a importância da ciência, da educação, do conhecimento consolidado, considerando exageradas as preocupações com o meio ambiente. Se há exageros, movidos por radicalismos ideológicos, também é verdade que há lunáticos, muitos encastelados nos diferentes governos, que não querem enxergar a realidade, se escondendo em uma lógica conhecida como negacionista. Não se trata de abandonar a Amazônia por parte da economia brasileira. Se trata de construir um plano de exploração sustentável daquela região sem se deixar levar pelos interesses externos. E certamente não é aumentando as queimadas, a grilagem de terras e o desmatamento descontrolado que um tal plano se efetivará. Essa péssima gestão começa a ser cobrada do restante da economia nacional, particularmente do agronegócio competente que temos.

Os principais pontos que estão no cerne do movimento do capital mundial contra a postura do governo brasileiro (e dos que pensam como ele) em relação ao meio ambiente, são os seguintes: 1) as mudanças climáticas são uma realidade irreversível; 2) segundo a OCDE, o mundo precisa investir cerca de US$ 6 trilhões até o ano de 2030 para se preparar aos efeitos destas mudanças; 3) os investimentos das grandes empresas e a geração de empregos se direcionarão, cada vez mais, para os países que buscarem soluções para o choque climático mundial; 4) nos próximos 20 anos, o risco climático ameaçará completamente a estabilidade econômica e financeira mundial, a qual já não vem bem há algum tempo; 5) o atual sistema de produção agrícola ficará comprometido, exigindo outras alternativas com elevados custos, algo que a maioria não está preparada e em condições de enfrentar; 6) as grandes empresas já integram os perigos climáticos em seus planos de investimentos (empresas de insumos agropecuários e de compra de produtos primários buscam desenhar o novo mapa mundial da produção agrícola, por exemplo); 7) hoje ninguém, no setor produtivo, faz previsões para 10 anos futuros sem levar em conta os efeitos das mudanças climáticas; 8) não se trata de eliminar o sistema produtivo existente, mas de adequá-lo ao novo tempo que se está começando a viver a fim de que a humanidade não afunde em mais violência, pobreza e outras consequências nefastas; 9) governos que não enxergam isso, terão dificuldades em se manter no poder pois colocam seus cidadãos em uma situação de não retorno diante desta realidade; 10) é preciso criar, a partir do conhecimento, da ciência, um sistema produtivo que não destrua a natureza, nem a consuma até o extermínio. O caminho é produzir de forma sustentável sem destruir o meio ambiente. Hoje, o verdadeiro capitalismo pensa meio ambiente, choque climático, respeito à natureza, pois percebeu que a sobrevivência depende de se associar o sistema produtivo à proteção da natureza.


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