Reunido, grupo Novos Baianos ainda deixa marcas na imagem e no som - Unijuí

Reunido, grupo Novos Baianos ainda deixa marcas na imagem e no som


Em tese, uma reunião dos Novos Baianos, em pleno 2016, correria o risco de soar como simulacro da magia de tempos idos. Felizmente, em vez de tenta forçar a reedição da mágica de outrora no show Acabou chorare, o grupo optou por refletir sobre ela com o benefício do tempo rei. A turnê chegou à cidade do Rio de Janeiro neste fim de semana em duas apresentações que eletrizaram o público que foi à casa Metropolitan, em 2 e 3 de setembro, mostrando que os Novos Baianos ainda deixam belas marcas na imagem e no som. Como afirma, aliás, a letra de Anos 70 (Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby do Brasil, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, 1997), o retrospectivo tema da reunião anterior, feita há 20 anos, que abre o roteiro do atual show.

Imagens do grupo na juventude (extraídas de filme de Solano Ribeiro) foram exibidas no início do show, engrandecido pelo cenário multicolorido de Gringo Cardia. Até um carro entrou em cena, transportando o grupo para o palco e o levando embora ao fim. E o fato é que a química ainda se fez! Aos 64 anos, Pepeu Gomes se confirmou um dos maiores guitarristas do mundo já no solo hendrixiano do hino da contracultura Dê um rolê (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1971), música que mostrou que Paulinho Boca de Cantor ainda faz jus, aos 70 anos, ao nome artístico. A voz calorosa que sai da boca do cantor esquentou plateia que era amor da cabeça aos pés nas mesas e camarotes da casa.

Também com 64 anos, Baby do Brasil ainda canta e dança como a menina fluminense que foi parar na Bahia. Quando cantou Tinindo trincando (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1972) e o choro Brasileirinho (Waldir Azevedo, 1949), este em esperto diálogo musical com a guitarra magistral de Pepeu, Baby esbanjou vigor e energia joviais. Aos 69 anos, Moraes Moreira – o principal compositor do grupo – está com a voz mais fanhosa, opaca, mas esse detalhe se tornou pequeno em show grandioso.

É Moraes, afinal, quem conduziu (bem) o grupo na cadência bonita do samba, puxando Samba da minha terra (Dorival Caymmi, 1940), um dos (muitos) números encorpados com o coro da plateia. De todo modo, o roteiro do show abriu espaço para solos e brilhos individuais. Até o letrista do grupo, Luiz Galvão, foi posto sob os holofotes para recitar versos como os de Amar-te (2003), musicados pelo parceiro Moraes.

Seguindo os ensinamentos de João Gilberto, o grupo caiu nos anos 1970 no samba que exalta o Brasil e a juventude bronzeada do país. Por isso, ao ser levado no toque do violão de Moraes, o samba Canta Brasil (Alcyr Pires Vermelho e David Nasser, 1941) fez todo sentido em roteiro que, no bis, reverberou Brasil pandeiro (Assis Valente, 1941).

Contudo, o samba dos Novos Baianos é roqueiro, eletrificado, miscigenado como o Brasil. De autoria de Jorginho Gomes, baterista da banda azeitada, o tema instrumental Um bilhete pra Didi (1972) reforçou a eletricidade da mistura. Bilhete pra Didi entregou o virtuosismo universal da guitarra de Pepeu. Dessa mistura, nasceu o samba próprio dos Novos Baianos, como realçou Paulinho ao abrir a boca para cantar Swing de Campo Grande (Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, 1972).

Quando solou Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso, 1938), antes de Baby cantar Farol da Barra (Caetano Veloso e Luiz Galvão, 1978), Pepeu situou a origem baiana do grupo. Mas os baianos souberam fazer um som que traduziu todas as cores e ritmos do Brasil, atualizando a exaltação de compositores como o mineiro Ary Barroso (1903 – 1964), lembrado também com Isto aqui o que é? (1942), samba posto dentro do espírito do grupo.

Enfim, tudo poderia soar requentado. Só que os baianos têm o dom de parecerem sempre novos. A reunião na turnê Acabou chorare – que vai seguir para Belo Horizonte (MG) em 10 de setembro e vai ser registrada ao vivo posteriormente para edição de CD e DVD – prova que as marcas do grupo ainda estão bem vivas como as cores do luminoso cenário deste show que vai permanecer em cena ao longo de 2017. 

Eis o roteiro seguido em 3 de setembro de 2016 pelo grupo Novos Baianos em apresentação do show Acabou chorare na casa Metropolitan, na cidade do Rio de Janeiro (RJ):

  1. Anos 70 (Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby do Brasil, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, 1997)
  2. Infinito circular (Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby do Brasil e Luiz Galvão, 1977)
  3. Dê um rolê (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1971)
  4. A menina dança (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1972)
  5. Colégio de aplicação (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1969) – com repente de Moraes Moreira
  6. Preta pretinha (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1972)
  7. Samba da minha terra (Dorival Caymmi, 1940)
  8. Tinindo trincando (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1972)
  9. Um bilhete pra Didi (Jorginho Gomes, 1972)
  10. Swing de Campo Grande (Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, 1972)
  11. Na cadência do samba (Ataulfo Alves e Paulo Gesta, 1962)
  12. Amar-te (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 2003)
  13. Canta Brasil (Alcyr Pires Vermelho e David Nasser, 1941)
  14. Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso, 1938)
  15. Farol da Barra (Caetano Veloso e Luiz Galvão, 1978)
  16. Isto aqui o que é? (Ary Barroso, 1942)
  17. Acabou chorare (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1972)
  18. Sugesta geral (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1978)
  19. Mistério do planeta (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1972)
  20. Brasileirinho (Waldir Azevedo, 1949)
  21. Besta é tu (Moraes Moreira, Pepeu Gomes e Luiz Galvão, 1972)
  22. Brasil pandeiro (Assis Valente, 1941)
  23. Anos 70 (Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby do Brasil, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, 1997)
  24. Na cadência do samba (Ataulfo Alves e Paulo Gesta, 1962)


(Crédito da imagem: Novos Baianos no Metropolitan em foto de Mauro Ferreira)

Fonte: G1


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