Literatura: "O Progresso do Amor", de Alice Munro, revela a dimensão trágica de vidas aparentemente banais - Unijuí

Literatura: "O Progresso do Amor", de Alice Munro, revela a dimensão trágica de vidas aparentemente banais

 
 

Alice Munro pertence há décadas ao seleto grupo de escritores como Philip Roth e Don DeLillo: são considerados pela crítica norte-americana as principais vozes contemporâneas da literatura em língua inglesa. A canadense, no entanto, até pouco tempo atrás não tinha o mesmo reconhecimento internacional do que os dois americanos citados. O jogo começou a virar em 2013, quando a autora recebeu a mais alta honraria dedicada a um escritor, o Nobel de Literatura.

No Brasil, apenas quatro de seus livros haviam sido publicados até o anúncio da Academia Sueca. Mais quatro títulos ganharam as livrarias nos anos seguintes, mas o processo pareceu prestes a se estancar – em 2016, nenhuma nova tradução de seus 14 livros de contos chegou ao Brasil. A boa notícia é que um novo volume já está disponível em e-book pela Biblioteca Azul e deve começar a circular em papel nas próximas semanas.

Lançado originalmente em 1986, O Progresso do Amor já foi citado pela autora como um de seus livros preferidos, mais especificamente pelo conto-título, que abre o volume. Nessa primeira história, uma personagem que trabalha em uma imobiliária leva um cliente a visitar a velha casa na qual ela cresceu. As lembranças sobre o espaço vão surgindo aos poucos, entrecortadas. Como costuma ocorrer nos contos de Alice Munro, o leitor é inserido com maestria narrativa em um cenário, mas só aos poucos descobre os mistérios que cercam os personagens, o que torna a leitura tensa e estimulante, apesar da aparente banalidade das vidas descritas – a autora geralmente escreve sobre trabalhadores do campo ou de pequenas cidades do interior do Canadá, cenário onde a própria Alice cresceu.

Os 10 contos que sucedem a trama de abertura voltam a explorar os segredos e as memórias de quem experimenta cotidianos supostamente pacatos. Como costuma afirmar em entrevistas, a escritora canadense acredita que a vida de qualquer pessoa pode ser interessante. O que ela enxerga, e também consegue revelar ao leitor, é a dimensão trágica de vidas comuns: é o homem fadado a abandonar suas parceiras sem jamais se deixar tocar pelo amor, como no conto Liquens, ou aquele que repete o ato de salvar ou colocar a vida do irmão em risco, em uma estranha mistura de afeto, culpa e medo, caso de Monsieur les Deux Chapeux.

Fonte: Zero Hora

 

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