Lá estava a sala já vazia, apenas com algumas pilhas de papel sobre o chão. Parecia estranho, mas eu queria olhar novamente cada uma daquelas pilhas. Era, sem dúvida, meu último dia. Só consegui realmente entender o significado daquele dia, naquele momento. Sempre existe um instante assim. Em que nos vemos como um expectador e não personagem. Ali, eu sabia, era um desses momentos importantes da vida.
O último sempre deixa um sabor estranho. Seja o último dia de trabalho, como no meu caso, ou de um último beijo, a sensação é de nostalgia. Mesmo com a certeza de que é hora de seguir, não há como deixar de dar uma olhadinha pra trás. As lembranças pipocam, sejam boas, ou ruins, e o famoso “filme” se passa em segundos.
O último também é a despedida de uma etapa, de um amor, de pessoas. Eu soube disso no momento em que vi a sala vazia. A mesma onde há cinco anos atrás tinha começado uma trajetória. Depois daquele dia não veria mais nem a sala, nem as pessoas que conviveram comigo, nem a vida como era antes. É assim, foi assim e será assim sempre que alguém viver “o último”.
Para ajudar no clima de nostalgia, de um lugar não identificado, veio a música “blackbird”. Tive certeza que era só um acréscimo para que eu não esquecesse daquele momento. Funcionou! Não esqueci. Como acho que ninguém esquece.
Bom pra mim é que eu sabia que aquele era o último dia. Eu sabia para onde iria, ou pelo menos imaginava. Mas nem sempre é assim. Nem sempre sabemos quando será o último dia, o último beijo, ou a última vez. Nesse caso só o “bom” ouvido é capaz de entender a melodia: “Pássaro negro cantando no silêncio da noite. Pegue essas asas quebradas e aprenda a voar. Toda sua vida você só esperava por este momento para surgir...”
* Douglas Dorneles da Rosa - jornalista da Coordenadoria de Marketing da UNIJUÍ