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Última Parada: violência banal



Dirigido por Bruno Barreto (diretor de, entre muitos outros, “Dona Flor e seus Dois Maridos” e “O que é isso, companheiro?”), o filme Última Parada 174, ficção a partir do fatídico caso do Ônibus 174, no Rio de Janeiro, onde um rapaz chamado Sandro manteve por horas reféns, resultando num final trágico, noticiado em todas as TV’s, jornais, rádios, revistas, internet, etc.; etc.; etc.

O roteiro, escrito por Bráulio Mantovani, o mesmo roteirista de “Cidade de Deus”, apresenta uma lógica. A lógica das favelas. Lógica da sociedade brasileira, em especial os grandes centros urbanos. O fim disso tudo é muito previsível, banal, para quem já está acostumado ao noticiário das 20 horas.

Última Parada foca, primeiramente na trajetória de Sandro, muitas vezes dando motivos “racionais” para ele levar adiante o sequestro. É necessário lembrar a morbidez da mídia e das pessoas, que acompanharam o seqüestro como se fosse um filme, realizado ao vivo, uma ficção. É como se Sandro tivesse que levar até as últimas conseqüências suas atitudes, para dar o que entreter o público.

Não é novidade esse tipo de filme, porém, é a realidade da sociedade onde ele foi realizado.

Ficha Técnica

Título Original: Última Parada - 174
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 110 minutos
Ano de Lançamento (Brasil / França): 2008
Site Oficial: www.ultimaparada174.com.br
Estúdio: Moonshot Pictures / Movie&art / Mact Productions / Paramount Pictures / Globo Filmes /Canal+
Distribuição: Paramount Pictures
Direção: Bruno Barreto
Roteiro: Bráulio Mantovani
Produção: Patrick Siaretta, Paulo Dantas, Bruno Barreto, Antoine de Clermont-Tonnerre
Música: Marcelo Zarvos
Fotografia: Antoine Heberlé
Direção de Arte: Cláudio Amaral Peixoto
Figurino: Bia Salgado
Edição: Letícia Giffoni




A lista de chamada

Encontrar meu amigo num lugar improvável depois de muito tempo me pareceu estranho naquela tarde

Minha mãe me levava tranquilamente pela mão e, em seguida, com um beijo carinhoso, se despediu. Olhei-a indo embora e, ao meu redor, outras crianças viviam a mesma cena. A diferença é que quase todas choravam. Era nosso primeiro dia de escola, na primeira série. Muitos estavam assustados porque era a primeira vez que ficavam longe da mãe. Porém, para mim era um mistério aquele choro.

Mas nem todos estavam em lágrimas. Lembro de um baixinho (digo baixinho porque era ainda menor que eu, um dos menores da turma) de cabelos crespos que, como eu, parecia não entender a choradeira. Talvez tenha sido a ausência de lágrimas o que nos aproximou, ou a nossa pequena estatura, não sei, mas o fato é que o crespinho tornou-se o meu primeiro amigo na escola. E seria assim até o final do Ensino Fundamental. A primeira conversa, como não poderia deixar de ser, foi sobre o choro dos outros, buscando uma explicação para todo aquele alvoroço apenas por umas horas sem a mãe.

Não lembro de ter perguntado o nome do meu amigo. Só o aprendi quando a professora o pronunciou na lista de chamada. Sentou-se logo a minha frente e quando seu nome foi chamado fomos devidamente apresentados. Dois baixinhos que não choravam a ausência da mãe no primeiro dia de aula.

Foi por meio de outra lista de chamada que reencontrei meu amigo baixinho da primeira série. Infelizmente, para nós dois, não estávamos numa sala de aula e ser chamado ali não era necessariamente uma coisa boa. Mais uma vez sentamos perto, dessa vez sem saber da presença um do outro. Até que, já cismado com aquele rosto familiar, seu nome mais uma vez foi chamado e tive certeza , era ele. Já havia um pouco de geada nos seus cabelos crespos e que também já não eram muitos. A estatura não era a mesma da escola, obviamente, mas ainda podia ser chamado de baixinho. “Não conhece mais os amigos, baixinho”, falei mais alto para chamar sua atenção. Um sorriso foi sua resposta. Prontamente me reconheceu.

Encontrar meu amigo num lugar improvável depois de muito tempo me pareceu estranho naquela tarde. Foi como se um vento de nostalgia soprasse no meu rosto. O cheiro da sala de aula, o choro dos colegas no primeiro dia, a merenda, as brincadeiras, a professora e seu giz desenhando as primeiras letras, tudo voltava enquanto meu amigo me contava da sua vida e, particularmente, daquele momento meio amargo que passávamos ambos sentados ali naquela sala de espera.

Saí dali com uma estranha sensação de que encontros como aquele são mais do que um acaso. Se para nenhum de nós era bom estar ali, ansiando por notícias de pessoas que nos eram caras, dividir aquele momento com alguém que fez parte do nosso passado mais glorioso, a “infância que os anos não trazem mais”, não deixava de ser um conforto. Na verdade, pelo menos a mim, parecia mais que isso. Era quase um aviso de que o tempo deixa pistas pelo caminho da vida. Nos pedágios que encontramos na estrada dos dias sempre há uma placa indicando de onde se veio e para onde se está indo. Nem sempre prestamos atenção e, às vezes, simplesmente passamos por todas elas ignorando-as. Mas eu estava com sorte, naquela tarde a minha placa estava explícita numa lista de chamada e não havia a menor chance de eu não notá-la.

* Douglas Dorneles da Rosa - jornalista da Coordenadoria de Marketing da UNIJUÍ


Última parada: violência banal

 

 








 
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