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Confira o texto da psicóloga Pâmela Vione Morin, mestranda em Atenção Integral à Saúde – UNICRUZ/UNIJUÍ e da doutora Eniva Miladi Fernandes Stumm, professora orientadora – UNIJUÍ.
A agricultura contemporânea, com o objetivo de aprimorar resultados, minimizar perdas, aumentar a qualidade da produtividade, com ênfase na rentabilidade, aposta em diferentes tecnologias fornecidas por técnicas e insumos. Na tendência agrícola atual, destaca-se o impacto que esta prática revela em danos ambientais, sociais e, em especial, na saúde mental. Estima-se, em torno de 1,8 bilhões de pessoas que trabalham na agricultura e que utilizam agrotóxicos. Na última década, o Brasil exibiu destaque em nível mundial no consumo de agrotóxicos, de acordo com estudo desenvolvido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. O referido estudo aponta para um crescimento no mercado brasileiro de 176%, percentual este que demonstra a superação da média mundial (Anvisa, 2010).
O que pra alguns significa alta produtividade, lucro, desenvolvimento da economia nacional, estadual e regional, pra mim profissional da saúde mental expressa apreensão e prejuízos irreversíveis aos atores principais, os agricultores. São eles que produzem o alimento nosso de cada dia, mas ao mesmo tempo ocupam um espaço secundário no que tange ao reconhecimento social no qual não é reconhecido com a devida importância, não recebe pelo que trabalha e é submetido a viver refém do uso de agrotóxicos.
Frente a esta problemática, expresso minha admiração e extrema preocupação com esta classe trabalhista. Neste cenário da modernização da agricultura, para além de vantagens, o uso de agrotóxicos traz consigo o comprometimento da saúde do trabalhador rural num todo, mas aqui enfatizo a saúde mental. Dados nacionais e internacionais apontam esta realidade, na qual a exposição pelo labor silenciosamente e a longo tempo compromete a saúde psíquica. Nesta mesma linha de discussão destaco alguns estudos que corroboram com esta afirmação e revelam em danos esses efeitos.
Estudos internacionais apontam o comprometimento da saúde mental e neurológica dos trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos, desvendados em: Parkinson, Alzheimer e efeitos neurocomportamentais, capazes de levar ao suicídio (Chang et al. 2012; Blanc-Lapierre et al, 2013; Richardson et al,2014). Em nível nacional a literatura sugere correlação entre exposição e capacidade neurotóxica que podem evoluir para o adoecimento psíquico, com quadros depressivos, doenças mentais sem origem psicológica, que trazem queixas de ansiedade, nervosismo e transtorno mental comum, expresso em sintomas e queixas somáticas os quais incluem insônia, irritabilidade, nervosismo, fadiga, dores de cabeça, esquecimento, dificuldade de concentração, manifestações sintomáticas depressivas, ansiosas ou somatoformes. Em destaque, o estado do Rio Grande do Sul, é alvo de muitas investigações (Faria et al, 2000;Fonseca et al, 2007; Poletto & Gontijo, 2012; Faria et al, 2014; Albuquerque et al, 2015; Lima, 2015).
Diante deste contexto complexo concentrei, juntamente com minha orientadora, Doutora Eniva Stumm, minha pesquisa de mestrado na busca por mais evidências da ocorrência de transtornos mentais em trabalhadores rurais, em um município da região noroeste. Nesta perspectiva, buscou-se avaliar a ocorrência de transtornos mentais e sintomas psíquicos em trabalhadores rurais que utilizam agrotóxicos e relacionar com dados sociodemográficos e hábitos de vida. Este estudo transversal, descritivo e analítico, foi realizado com 361 trabalhadores rurais, as informações foram coletadas a partir de um formulário com dados de identificação, sociodemográficos e clínicos. Além deste, foi utilizado o instrumento Self-Reporting Questionnarie SQR-20, que avalia a suspeição diagnóstica de transtornos mentais comuns. Os resultados do estudo mostraram a ocorrência de transtornos mentais em 47,9% dos pesquisados associado à idade, escolaridade, estado civil, uso de agrotóxico e consumo de álcool.
Neste ínterim, busca-se alertar a população num todo para a dimensão dos problemas à saúde mental, em especial os trabalhadores rurais que utilizam e estão expostos diretamente aos efeitos dos agrotóxicos.