Nas tardes e noites de quinta e sexta-feira da semana passada, esteve em debate na Unijuí, o Maio de 68, que teve como culminância, manifestações, passetas e confrontos na França. O evento foi marcado por filmes, palestras e discussões, promovidas pelo Centro Acadêmico de Filosofia, Centro Acadêmico de História e DCE, além da participação de estudantes de diversos cursos da Unijuí.
O período representa aquilo que todas as gerações desejam e devem fazer: mudar o mundo à sua maneira. Não que seja tarefa fácil. Na França, jovens movidos a filosofia existencialista de Sartre, o cinema da Nouvelle Vague, principalmente Godard, além do Rock’ n Roll dos Doors e de Jimi Hendrix, saíram às ruas, promoveram debates, e até quebra-quebra, muitos desses, confrontos com a polícia. E disso para vários países. Pais desesperaram-se. Filhos saíram da tranqüilidade de suas casas para encarar a convulsão das ruas.
O motivo das manifestações: chamar, ou melhor, chacoalhar a atenção para a urgência de viver. Aquilo que Sartre chama de “viver sem interrupção”. Ou seja, os jovens da época tinham um (dentre muitos outros) lema: “é proibido proibir”. Cada um devia ser sujeito consciente dos seus desejos. A vida: a busca pela satisfação destes desejos. Não trata-se de endeusar o período. Nem de ficar preso ao passado. Mas, observar o que aquela geração nos possibilitou, nos alertou, nos fez melhores e deixar os erros e os exageros pra trás, isso sim.
No maior clima sexo, drogas e rock’n roll, o Maio de 68 foi caracterizado também, pela politização da juventude. É história, é exemplo, é evolução: nos costumes, na música, no cinema, na contestação da sociedade.
No Brasil, o período foi marcado pelo endurecimento extremo da ditadura, com a imposição do AI-5. Ou seja, estava tudo proibido. O que aconteceu: os jovens trocaram os livros, a música, o cinema e os discursos engajados, por paus, pedras, armas. Seqüestros. Em contrapartida, nos porões da ditadura, estudantes eram presos, torturados, mortos, esquecidos. Muitos ficaram com seqüelas para o resto da vida. Muitos se suicidaram. É história, é exemplo e não pode ser esquecido.
E a final? E agora? Pois é, não dá pra se viver preso em uma época. Também não da pra se deixar de analisar e incorporar o que de bom esse movimento (contra) cultural teve. Que legado a geração deixou para as próximas? Cazuza, nos anos 80 berrou: “Ideologia, eu quero uma pra viver!”.
O professor do Curso de Letras e Comunicação Social da Unijuí Larry Wisniewski, em sua palestra na quinta-feira à noite, chamou a atenção para a nossa atualidade:
Cadê a espontaneidade? Cadê a reflexão, o debate, a discussão de idéias? Segundo o professor, nossa estrutura, principalmente no que tange a cultura, tudo que não for minimamente planejado, não é executado. Tudo que não for mega, hiper, high, não atrai. Tudo que não for para o mercado, para o lucro, não rende.
Passamos por um período de transformações. A internet possibilita o acesso e a divulgação de uma série de coisas. Livros, filmes, revistas, jornais, rádios, tv’s, textos clássicos, blogs jornalísticos, opinativos, enfim, muita coisa. Um emaranhado complexo de cultura, informação e entretenimento. Tudo depende da ação dos sujeitos: seguindo a máxima aristotélica de que o homem transforma a potência em ação.
Para encerrar, mais uma idéia do professor Larry: “precisamos de mais espontaneidade”. Era isso...
Para saber mais
Filmes exibidos durante o evento:
Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci, 2003
Batismo de Sangue, de Helvécio Ratton, 2007
O que isso companheiro?, de Bruno Barreto, 1997
* Fernando Vieira Goettems - Estagiário de Jornalismo da Coordenadoria de Marketing da Unijuí
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